Helena Simão, Henriques da Cunha, in Jornal de Notícias
Talvez por nascer o seio de uma família pobre, no Cadaval, Rosinda Justino sonhou desde muito nova poder, um dia, ajudar as crianças a ter um futuro melhor. "Éramos cinco irmãos e as possibilidades eram poucas", recorda. Há quase um ano, Rosinda fundou a Associação Paraíso das Crianças (APC), cujo projecto foi já entregue à Segurança Social e aguarda o reconhecimento como Instituição Particular de Solidariedade Social. Doou ainda um terreno para a construção de uma casa de acolhimento temporário e 100 mil euros. Outros apoios são agora precisos para erguer o centro.
Foi, a partir dos 18 anos, já a residir em França com os pais, que Rosinda teve as oportunidades que até aí lhe escaparam. "Casei lá e foi lá que tive três filhos", conta, adiantando que foi também naquele país, onde ainda vive, que trabalhou com crianças desfavorecidas. "Através da rede social, elas vinham para minha casa ou porque não tinham família ou porque as famílias não tinham condições para as manter", conta a emigrante, actualmente com 58 anos.
O sonho de ajudar algumas delas, mas na terra natal, era cada vez mais forte. Até que surgiu a possibilidade de criar uma associação, no Cadaval. Uma realidade que começou a ser escrita a 29 de Junho de 2006, dia em que foi assinada a escritura, no cartório notarial local. O projecto começou a merecer a atenção de algumas pessoas, sobretudo de Carla Domingues, solicitadora, de 37 anos, que fez a escritura e não cobrou nada, e Maria Matias, informática, de 33 anos, que se prontificou a criar o site da APC. "Quando a Rosinda veio ter comigo a perguntar-me quanto é que levava para formalizar uma associação, quis saber do que se tratava e ao perceber que era para ajudar as crianças acarinhei logo o projecto", explica Carla Domingues. O seu quotidiano já atarefado complicou-se ainda mais, mas a solicitadora não se importa de perder umas horas da sua vida profissional para apadrinhar esta causa. O mesmo diz Maria Matias "Andamos sempre a correr porque estamos num fase de divulgação e queremos que o nome da associação chegue o mais longe possível. Mas corremos com gosto".
O projecto - que deu, entretanto, entrada nos serviços da Câmara e mereceu parecer favorável da Rede Social - está a ser acarinhado pelo presidente da autarquia, Aristides Sécio, o qual durante uma viagem aos Estados Unidos, trouxe um convite para a APC. A comunidade portuguesa de Newark quer conhecer a associação e está a organizar um jantar, no próximo sábado, com meio milhar de presenças já confirmadas. Entretanto, para 19 de Maio, está marcado um outro evento cultural, no Cadaval, que servirá para apresentar o projecto ao público da região.Rosinda continua inquieta. Ainda lhe faltam cerca de 500 mil euros para realizar o seu sonho e abrir a casa de acolhimento temporário. Mas a emigrante espera que as pessoas sejam sensíveis à causa "Cada um dá o que pode. Para ser sócio, por exemplo, bastam 24 euros por ano".
Projecto inicial visa acolher temporariamente 12 crianças
A casa de acolhimento "Paraíso das Crianças" destina-se a receber crianças e jovens, com idades até aos 12 anos, em situação de perigo. Visa garantir os cuidados adequados às suas necessidades e proporcionar condições que promovam os seus direitos e a integração na comunidade local. O objectivo inicial é acolher 12 crianças que, de seis em seis meses, serão avaliadas até que lhes seja encontrada uma solução definitiva e possam abandonar o centro e caminhar sozinhas. O projecto global visa, no entanto, receber mais crianças. "O terreno tem sete mil metros quadrados. Dá para fazer mais quartos, mantendo todas as condições para que as crianças se sintam bem e com os técnicos adequados", defende Rosinda Justino. O projecto de construção está a ser ultimado e deverá ser apresentado à comunidade portuguesa de Newark.