17.10.07

"Situação social do distrito é surreal"

Denisa Sousa, in Jornal de Notícias

O distrito de Braga está viver "situações surrealistas" ao nível do desemprego e da precariedade. Aos 52 mil desempregados, número que não pára de aumentar, somam-se mais de 80 mil precários, muitos deles pagos pelo Centro de Emprego e Segurança Social, denuncia a União de Sindicatos de Braga (USB) que, ontem, em jeito de balanço à realidade local, enumerou uma série de "atropelos" alegadamente cometidos contra os trabalhadores por empresas que apresentaram lucros astronómicos.

A questão dos precários, aliada ao recurso a trabalhadores temporários, contratados por firmas externas, colhem parte das preocupações, já que, de acordo com Adão Mendes, a prática tem vindo a tornar-se recorrente também em universidades, centros de dia, lares, creches, hospitais e centros de saúde.

Na área empresarial, na qual se tem vindo a assistir a uma redução drástica de trabalhadores efectivos, falências e insolvências, a região vive um grande impacto social. Será, dizem, o caso da Fehst, onde, de acordo com o líder da Comissão de Trabalhadores, Carmindo Soares, "foi proposto aos operários uma redução de 30% nos salários, perda de subsídios nocturnos e comparticipação na refeição que, anteriormente, era grátis".

"Alegaram que os trabalhadores eram muitos e o trabalho era pouco, mas depois contrataram 12 temporários para trabalhar ao fim de semana", acusou. Mas há casos tão ou mais graves do que este, denunciam.

Pegando no relatório do economista Eugénio Rosa sobre as 564 empresas que apresentaram um aumento dos lucros de mais de 65%, Adão Mendes sublinha que 20 têm sede no distrito e um historial pouco exemplar. A Continental Mabor, por exemplo, garante o responsável, "recorre ilegalmente à empresa Select para rescindir contratos".

"Ao fim de 40 anos de ligação à Mabor passam para a outra durante seis meses e depois é esta empresa rescinde com eles. A Somelos faz igual", acusa. Outro caso considerado grave é o da Kronberg onde, garante a USB, apesar de aplicado o lay- off de forma ilegal, "com a conivência da Segurança Social".

A Coindu, a Coelima, Amtrol- Alfae a Blaukpunt foram outros exemplos dados, com desrespeitos variados de não pagamento de horas extras, despedimentos massivos e violação do Código Laboral.