André Vieira, in TVI
Medina Carreira não tem dúvidas: nem na grande crise dos anos 30 estávamos tão mal como agora. «Estamos mais ou menos como estávamos no final da Monarquia»
Vote 12345Resultado 123457 votos5 comentários Medina Carreira considera que a crise económica actual vai ter um grande peso nas gerações futuras. No encerramento do 7º ciclo de debates do Clube dos Pensadores, em Gaia, realizado na segunda-feira à noite, o ministro das Finanças do I Governo Constitucional revelou estar pessimista quanto à recuperação da crise financeira em Portugal.
«A crise económica está para a democracia como as guerras de África para o Estado Novo». O impacto da crise, para Medina Carreira, abrange um perímetro mais alargado «porque não temos uma crise, temos várias».
Para além da crise económica, o economista acredita estarmos perante «uma crise moral da elite financeira» e uma «crise social que resulta do desemprego e da insegurança como consequência»; «como nunca se sabe quem é o responsável todos levam por tabela».
Numa «economia que quase não cresce» e onde a «capacidade geral de riqueza estagnou», o «desemprego é altamente preocupante»: «Estamos mais ou menos como estávamos no final da Monarquia». Medina Carreira acrescenta que mesmo «entre os anos 30 a 40, altura da grande crise económica, estávamos melhores do que agora».
Apesar de garantir que «a crise cá dentro já existia antes de chegar a de lá de fora», certo é que quando a crise internacional acabar «seremos postos à prova de uma forma dramática». Medina Carreira explica: «Quando se resolver lá fora, resolve-se cá, mas os estragos do passado ficam».
O motivo do pessimismo prende-se com o facto de no momento «a produtividade ser baixa», por «sermos pouco competitivos» e por «termos salários baixos, resultado da baixa produção».
Ao contrário dos anos 60 «quando beneficiávamos de mão de obra barata», nos dias de hoje o «empresário inteligente vai para o Leste» porque «quem investe faz contas» e, neste momento, Portugal é um país pouco atractivo para a abertura de empresas estrangeiras que procuram lugares periféricos na busca de maior margem de lucro, recorrendo a mão-de-obra não qualificada.
Com desta estratégia, recorda, «nos anos 60, suportamos a guerra em África sem dívida».
«Gastar dinheiro em autoestradas é o mesmo que gastar em Magalhães: não serve para nada»
O fiscalista considera que a entrada do euro tirou a Portugal poder de decisão no equilíbrio da economia nacional e explicou que «quando desvalorizávamos o escudo ganhávamos». Com o euro estes ajustes já não são possíveis e a dívida pública aumentou cerca de 35 milhões de euros por dia nos últimos dez anos.
No sentido de incentivar o crescimento económico desaconselha o investimento na construção de obras como autoestradas para abrir oportunidades de emprego e consequente aumento do consumo.
Medina Carreira acredita que «gastar dinheiro em autoestradas é a mesma coisa que gastar dinheiro em Playstations ou em Magalhães, não serve para nada».
«Quando acabarmos estas obras somos o quinto ou sexto país com mais autoestradas no mundo», garantiu; teremos quase tantas como um país muito maior como é a Alemanha.
Futuro da economia
Medina Carreira teme o aumento de «desemprego, desigualdades, insegurança» e «mais estragos que se vão juntar aos já existentes». Num futuro próximo «podemos vir a ter juros mais altos ou ver os empréstimos cada vez mais racionados». Mas a maior preocupação é o facto de «os impostos poderem ser todos comidos pela segurança social. Será aqui que tudo se vai complicar».
«Vamos passar por um período de incerteza muito grande», advertiu ainda o antigo ministro das Finanças, num país onde os «Governos não são maus pais, são padrastos», são necessários «partidos novos a fazer coisas diferentes e «são precisos políticos diferentes capazes de controlarem a despesa pública».

