Alexandra Serôdio, in Jornal de Notícias
Bispo alerta para o facto de a crise poder gerar manifestações violentas. Estado e sociedade civil têm papel a desempenhar
O bispo da diocese de Leiria e Fátima mostrou-se esta terça-feira preocupado com a actual crise económica que se vive no país, e que pode levar a "uma explosão social violenta". D. António Marto pediu a contribuição de todos.
"Não podemos deixar que a crise económica se transforme numa explosão social violenta. Para evitar esse risco todos devem contribuir com a sua parte: o Estado, empresários, trabalhadores, sindicatos e sociedade civil", afirmou o bispo.
Falando aos jornalistas momentos antes do início das celebrações da peregrinação aniversaria de Maio - marcadas ontem à noite pela Procissão das Velas - , D. António Marto defendeu "uma reflexão atenta" sobre "as regras da finança e da economia, e sobre o modo de fazer das empresas, sobre a intervenção das instituições a favor de quem está em dificuldade por causa da crise".
Segundo o bispo diocesano esta crise "pôs em evidência como no trabalho empresarial é absolutamente necessário a referência ao fundamento ético" e aproveitou para deixar um recado aos empresários: "um trabalhador não é simplesmente uma das muitas componentes da empresa. É uma pessoa com expectativas, sonhos e projectos que vão para além do tempo passado no trabalho".
Apelando ao "sentido de responsabilidade" de todos, D. António Marto voltou a reafirmar que "a Igreja não se pode substituir ao papel do Estado e das instituições de solidariedade", apesar de "muito fazer junto das comunidades" onde está inserida. O trabalho em rede "é mais eficaz e inteligente", garantiu o prelado que se mostrou preocupado com as famílias portuguesas.
O direito ao trabalho, sustentou "é o elo mais fraco em toda a cadeia de consequências desastrosas da crise" argumento D. António Marto, adiantando que o espírito de solidariedade "levou à mobilização de todos os organismos sócio-caritativos da Igreja, a nível nacional, diocesano e paroquial".
E para que "quem perde o trabalho não perca também a dignidade", o bispo da Diocese de Leiria e Fátima pede a todas as comunidades cristãs que façam uma leitura "sábia" das necessidades concretas" e elaborem projectos "inteligentes" que ajudem os mais necessitados.
Por seu turno, o arcebispo das Honduras e presidente da Cáritas Internacional lembrou que a caridade "é uma virtude importante e que deve ser cultivada". Para D. Oscar Maradiaga a crise internacional "não é só económica" mas também de "valores", acusando o homem de "pensar que Deus e que tudo pode". "A ganância tem limites. A economia tem limites" disse o arcebispo aditando que a solução para a pobreza "chama-se solidariedade".
Ao longo do ano passado houve um decréscimo de ofertas dos peregrinos ao Santuário, revelou o reitor Virgilio Antunes, garantindo contudo que "não foi significativo". Lembrando que o Fundo de Caridade do Santuário é de mais de meio milhão de euros que anualmente são distribuídos por várias instituições e igrejas não só de Portugal como do mundo, o reitor lembra que "as pessoas são generosas" e que "quando se fala em apoiar instituições elas fazem-no".
O bispo da diocese garante que "não há desafeição" dos peregrinos adiantando ser "natural" que as pessoas ofereçam menos em tempo de crise.