in Jornal de Notícias
Nas mais de quatro mil paróquias portuguesas tem havido um aumento de pedidos de auxílio, reflexo da crise que se faz sentir desde "as serras do interior ao litoral" do país.
É a situação financeira que as leva a pedir ajuda à Igreja, mas muitas mulheres acabam por confessar aos párocos terem sido abandonadas pelos maridos desempregados. Os padres alertam para um novo fenómeno: a falta de trabalho está a destruir famílias.
Nas mais de quatro mil paróquias portuguesas tem havido um aumento de pedidos de auxílio, reflexo da crise que se faz sentir desde "as serras do interior ao litoral" do país. "Em termos médios nacionais, o aumento situa-se nos 30 por cento" desde o final do ano passado, disse à Lusa Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa.
Normalmente, "são as mulheres que aparecem" a dar a cara. "A mulher traz o problema da família", conclui o responsável, que falava à Lusa a propósito do Simpósio "Reinventar a Solidariedade", organizado pela Conferência Episcopal, e que se realiza sexta-feira, integrado nas comemorações dos 50 anos do monumento a Cristo-Rei.
Além da falta de dinheiro para pagar as contas, algumas esposas contam histórias de abandono, que acabam por se traduzir num agravamento dos problemas já vividos.
"Começa a haver situações de mulheres que ficam sozinhas porque os maridos, desempregados, não toleram a situação em que se encontram: consideram-se minimizados", contou à Lusa Eugénio Fonseca, explicando que os homens actuam "relevados pela vergonha", por acharem que "não têm nada para contribuir". "Acabam por abandonar a casa e criar mais um problema que é deixar a mulher sozinha com os filhos", lamenta.
Eugénio Fonseca diz que em algumas dioceses existem ainda casos de homens que se "refugiam no álcool e geram situações de agressividade familiar".
Sozinhas, as mulheres procuram na sua paróquia a solução para os problemas, mas muitas vezes chegam tarde de mais.
Durante muito tempo "vivem em silêncio" uma "pobreza envergonhada" e só pedem ajuda quando se sentem verdadeiramente desesperadas.
"Quando vêm já trazem encargos insolúveis, de um montante tal que não é, muitas vezes, possível aos grupos paroquiais e às instituições da igreja responder. São valores de uma grandiosidade tal que não são compatíveis com os parcos recursos de que dispomos", reconheceu.
A proximidade da Igreja com a comunidade local faz com que, por vezes, sejam os próprios vizinhos e familiares a dirigirem-se à paróquia à procura de ajuda.
As instituições a que estão ligadas são normalmente porta-vozes do problema da família junto da Igreja, lembra Eugénio Fonseca, alertando "não tanto para ver resolvida a dívida" mas no sentido de perceber se é preciso assegurar outro tipo de ajuda, por vezes tão básica, como "a alimentação".
No entanto, a alimentação, saúde e educação dos filhos ainda são áreas que não representam um encargo assim tão difícil de suportar, garante o responsável, que aponta as dívidas contraídas com a habitação como a principal dor de cabeça das famílias portuguesas.