14.5.09

nflação continua a cair em Portugal mas apresenta já alguns sinais de estabilização

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

A inflação homóloga já está ao valor mais baixo desde 1962, mas, excluindo os preços energéticos e alimentares, nota-se uma tendência de estabilização


A taxa de inflação homóloga em Portugal manteve, em Abril, a sua trajectória descendente, atingindo agora o valor mais baixo desde Junho de 1962, mas alguns sinais de estabilização nos preços tornam agora mais provável o regresso deste indicador a valores positivos durante a segunda metade do ano.

De acordo com os números ontem publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a variação dos preços face ao mesmo mês do ano passado foi, em Abril, de -0,5 por cento, uma descida um pouco mais acentuada do que a que ocorreu em Março (-0,4 por cento). A taxa de inflação média anual, que é a utilizada por exemplo nas negociações salariais, passou de 1,9 para 1,6 por cento.

Apesar de esta descida de preços ser benéfica para a generalidade dos consumidores - que podem conseguir, mesmo com aumentos nominais baixos, uma evolução mais favorável do seu poder de compra -, existe a preocupação - que não é exclusiva de Portugal - de que a economia possa vir a cair num processo de deflação, ou seja, num período longo de descida generalizada dos preços, que reduz os incentivos dos particulares e das empresas para consumirem e investirem, acabando por provocar nova estagnação da actividade económica e novas descidas de preços.

O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, tem defendido que os riscos de deflação em Portugal têm vindo a subir, mas são ainda quase insignificantes. De acordo com este responsável, a actual descida de preços é temporária e deve-se à evolução específica dos preços de alguns produtos, prevendo um regresso a taxas de inflação positivas durante os últimos meses deste ano.

E, de facto, os dados ontem divulgados pelo INE contêm sintomas de que é isso que pode vir a acontecer. Tal como já vinha acontecendo nos meses anteriores, a principal explicação para a taxa de inflação negativa está na evolução dos preços dos produtos energéticos e alimentares. Em Maio do ano passado, estes produtos estavam em forte alta nos mercados internacionais, que se manteve até Julho de 2008, mês em que iniciaram uma trajectória de descida.

É por isso que agora, passado um ano, a variação homóloga dos preços é muito negativa tanto nos bens alimentares não transformados (-1,4 por cento), como, principalmente, nos produtos energéticos (-10,9 por cento). Agora que os preços destes bens estabilizaram - os bens energéticos ficaram 1,6 por cento mais caros do que em Março -, é apenas uma questão de tempo até que a sua taxa de inflação homóloga regresse a valores menos extremos.

Por isso, o perigo de a economia cair num processo deflacionista está mais na possibilidade de, com a ajuda da forte contracção da economia, a descida de preços se alargar a outros tipos de bens. E é aqui que os dados de Abril ontem divulgados fornecem alguns sinais de estabilização. A inflação homóloga, excluindo os bens alimentares e energéticos, foi de 0,9 por cento, exactamente o mesmo valor que já se tinha registado em Março. Ou seja, depois de seis descidas consecutivas, desde Setembro, este indicador travou a sua queda.

Em todo o caso, Portugal é, para já, um dos países da zona euro em que a descida dos preços é mais acentuada. Em Março, apenas a Irlanda registava uma taxa de inflação homóloga ainda mais negativa. Em Abril, a primeira estimativa do Eurostat para o total da zona euro é de 0,6 por cento, o mesmo valor de Março e consideravelmente acima de Portugal. O peso dos produtos energéticos e a queda mais acentuada da economia em Portugal podem explicar esta diferença.