Gina Pereira, in Jornal de Notícias
Ex-comissário europeu considera a medida do Governo "proteccionista"
O socialista e ex-comissário europeu para a Justiça e Assuntos Internos António Vitorino criticou, este sábado, a intenção do Governo de reduzir as quotas de imigrantes extra-comunitários por causa da crise, classificando a medida de "proteccionista".
A crítica de António Vitorino foi feita nas Conferências do Estoril, num painel em que se discutia a governabilidade da globalização e em que participaram também o ex-primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, e Maria João Rodrigues, ex-ministra do Trabalho de Guterres e actual conselheira especial para a Agenda de Lisboa. Em discussão estava a forma como a actual crise mundial pode afectar a globalização e motivar a adopção de medidas proteccionistas, como, segundo António Vitorino, já está a ser feito por 17 dos 20 países do G20.
Vitorino disse ser "abertamente contra" a intenção, anteontem assumida pelo ministro Vieira da Silva, de reduzir as quotas de imigrantes por causa da crise. "Mas a pergunta que deve ser colocada ao Governo português é quantos imigrantes é que, de facto, entraram em Portugal no último ano e qual foi o impacto real na nossa situação económica. Os números são muito, muito baixos", garantiu, dizendo ser contra "este género de medidas proteccionistas".
O ex-comissário defendeu que é preciso "combater as tendências proteccionistas", por entender que podem "minar o impulso da globalização". Os vários oradores reconheceram que "há problemas de representatividade" nas instâncias internacionais. "O G20 é um passo positivo, mas tem de haver uma alteração do sistema, incluindo a forma de funcionar do Conselho de Segurança das Nações Unidas", reclamou Maria João Rodrigues, apontando o facto de as instituições actuais "não reflectirem o equilíbrio de poder que existe no mundo".
José Maria Aznar considerou a globalização "uma grande oportunidade" e apontou-a como a responsável pelos "30 anos mais prósperos da história da humanidade". Não esqueceu, contudo, os "novos fenómenos", como a imigração e disse não acreditar numa "aliança de civilizações", mas num "diálogo de culturas" e numa "aliança de civilizados", mostrando-se contra os que usam a violência e o terrorismo.
No encerramento da 1ª edição das Conferências do Estoril - uma iniciativa que a Câmara de Cascais promete repetir no próximo ano - foi lida uma mensagem do presidente da Comissão Europeia, onde Durão Barroso admite que as medidas tomadas pela Comissão para mitigar a crise "já estão a dar frutos" e prefiguram "um sistema de governança global".