por Alexandra Carreira, Bruxelas, in Diário de Notícias
Prosseguem as negociações de bastidores para financiar novas etapas da luta contras as alterações climáticas no planeta.
É em Copenhaga que decorrem as negociações sobre o novo acordo sobre o clima, mas é em Bruxelas que se começa a encher o mealheiro do fundo que vai servir para financiar a luta contra as alterações climáticas nos países mais pobres do mundo. Os chefes de Estado e de Governo chegaram ontem a Bruxelas para uma cimeira de dois dias que mais parece um evento de angariação de fundos com cada país a anunciar em quanto está disposto a contribuir.
Dois mil milhões de euros por ano é quanto, diz a Comissão Europeia (CE), os países da União Europeia (UE) terão de angariar anualmente e por três anos para a luta dos países em desenvolvimento. Entre cinco e sete mil milhões são necessários no período que o executivo chama de "financiamento público de arranque rápido" e que cobrirá os três anos daqui até 2012, ano em que deverá entrar em vigor o acordo sucessor do Protocolo de Quioto.
O valor do total oferecido pelos 27 da UE só deverá ser conhecido hoje quando Fredrik Reinfeldt, presidente em exercício da UE, der por encerrada a última cimeira da presidência sueca e também a última em que um primeiro-ministro europeu assegura o Conselho Europeu. Ainda assim, fontes diplomáticas sugerem ser possível que a Suécia venha a anunciar o produto do bolo total. José Sócrates recusou ontem, à chegada a Bruxelas, revelar qual o montante para que Lisboa se mostra disponível .
Para já, no conjunto dos 27, o valor mais elevado foi anunciado pelo Reino Unido, 880 milhões de euros para o total dos 3 anos. A Alemanha promete ficar acima dos compromissos assumidos por Londres, mas recusa passar um "cheque em branco", mantendo a expectativa sobre o que farão as outras nações ricas. A Suécia, em jeito de exemplo, disse disponibilizar 765 mil milhões, ao passo que os restantes países dos quais já se conhecem as medidas de esforço ficam todos abaixo dos 400 mil milhões.
Para pedir o melhor acordo possível em Copenhaga, membros da ambientalista Greenpeace penetraram uma das delegações nacionais que dava entrada no perímetro do Conselho, conseguindo furar a apertada malha da segurança de Bruxelas. De dentro de uma das carrinhas que compunham a delegação, frente à entrada utilizada pelos chefes de Governo, saíram activistas que gritaram "Wake up" (acordem, em português) e empunharam cartazes onde se lia "UE, salva Copenhaga."
Ao mesmo tempo, os 27 devem ainda adiar para quando estiverem todos na capital dinamarquesa, para a semana, qualquer decisão que implique o aumento do esforço de redução das emissões de dióxido de carbono dos 20% para os 30%, relativamente aos valores registados em 1990. São os países dos dois últimos alargamentos os relutantes em ir mais além, para já.
Herman van Rompuy esteve ontem presente no Conselho Europeu na qualidade de presidente permanente indigitado do Conselho, embora só em Janeiro assuma as novas funções. Outra novidade: com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa a 1 de Dezembro, a mesa de reuniões dos líderes encolheu: os ministros dos Negócios Estrangeiros já não têm assento nas cimeiras europeias.