por Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias
No terceiro trimestre, o PIB cresceu 0,7%, contra uma previsão de 0,9%. Consumo e investimento não arrancam. Portugal já tem menos de 5 milhões de empregos.
A economia portuguesa está a recuperar mais lentamente do que se previa - no terceiro trimestre, o produto interno bruto (PIB) cresceu 0,7%, contra a previsão anterior de 0,9%, reflectindo a paralisia nas compras das famílias e um novo recuo no investimento. Só as exportações dão sinais de aceleração. E se os números confirmam que Portugal saiu da recessão, a verdade é que a economia continua a destruir empregos.
Ontem, o Instituto Nacional de Estatística (INE) reviu em baixa as estimativas iniciais, divulgadas no início deste mês, de uma expansão de 0,9% no terceiro trimestre do ano, em relação ao período de Abril a Junho. Afinal, a actividade trimestral cresceu "apenas" 0,7%, com a procura interna - investimento, consumo das famílias e do Estado - a deprimir a actividade.
Uma revisão que não preocupa o primeiro ministro. José Sócrates lembra que, ainda assim, Portugal registou "um dos maiores crescimentos europeus". As diferenças entre a estimativa rápida e os números que são divulgados pelo INE umas semanas mais tarde, acabam sempre por poder variar algumas décimas, desvalorizou .
O contributo do comércio externo para o desempenho da economia é positivo, já que as importações estão mais deprimidas do que as vendas das fábricas ao exterior. Mas as exportações custam a arrancar, o que poderá estar associado a perdas de competitividade das empresas ou contracção de alguns mercados, como o de Espanha, primeiro cliente português.
A verdadeira causa para o "gripar" do motor económico está na despesa interna. Com o desemprego a crescer e a confiança em baixa, as famílias deixaram de gastar dinheiro, o que reprimiu as vendas dos comerciantes e a produção dos industriais.
Onde é que os consumidores estão a cortar na despesa? Na compra de bens duradouros, como carros e electrodomésticos, já que a compra de bens alimentares aumentou 1%. Mas, mesmo na alimentação os portugueses estão a reprimir nos gastos. É que esta taxa de crescimento nas compras mensais do supermercado é a mais baixa desde o último trimestre de 2007. Também desaceleraram nos gastos com a contratação de serviços, como a ida aos cabeleireiros ou na restauração, hotéis. Neste capítulo, a despesa aumentou apenas 0,2%, a mais baixa taxa de crescimento desde há pelo menos 15 anos. Mesmo com o Estado a gastar mais pelo terceiro trimestre consecutivo, as despesas finais em consumo voltaram a cair.
Pela primeira vez desde meados de 2008, o investimento em material de transporte foi positivo, após quebras acima dos 30% nos últimos trimestres. Mas a retracção na construção continua a escrever em números vermelhos o investimento privado.

