14.12.09

“Novos pobres aumentam cada vez mais em Cantanhede”

por José Carlos Silva, in Diário de Coimbra

Fazer o bem sem olhar a quem. É sob o prisma desta “máxima” que a Conferência de S. Pedro da Sociedade de S. Vicente de Paulo de Cantanhede tem, ao longo de décadas, ajudado pessoas e famílias carenciadas a “matar a fome”. Pessoas e famílias muitas delas já sinalizadas por esta entidade e que recebem regularmente donativos em géneros alimentícios. Mas, nos últimos tempos, novos pobres têm batido à porta desta Conferência Vicentina a pedir auxílio para mitigar a fome.

«Quando alguém nos bate à porta da nossa “mercearia” não vai de mãos a abanar. Leva sempre alimentos para alguns dias», disse ao nosso Jornal o advogado e empresário Ildefonso Samelo, um dos responsáveis desta Conferência ligado à Sociedade de S. Vicente de Paulo «há mais de 40 anos». Além de alimentos, os Vicentinos de Cantanhede ainda ajudam algumas das famílias suas protegidas com a oferta de medicamentos, especialmente alguns idosos que não têm meios de os comprar e não podem passar sem medicação.

A poucos dias do Natal os pedidos de ajuda aumentam, como aumenta também o aparecimento em Cantanhede de novos pobres, sobretudo de casais jovens, que recorrem à Sociedade Vicentina a pedir auxílio.

«Este ano já atendemos famílias que não imaginava que alguma vez precisariam da nossa ajuda», refere este irmão vicentino, temendo que a actual crise mundial venha a afectar cada vez mais os portugueses. Isto porque, segundo as estatísticas, em Portugal uma em cada cinco pessoas vive no limiar da pobreza «e com esta crise a pobreza tende a aumentar», diagnostica Ildefonso Samelo.

«Neste momento é notório que em Cantanhede há cada vez mais famílias a passar fome, e o desemprego de um ou dos dois membros do casal faz com que muitas das famílias tenha grandes necessidades», atira Ildefonso Samelo, não esquecendo «a pobreza envergonhada» de muita gente que «prefere passar fome a expor as suas dificuldades».
Os pobres não são apenas números nas estatísticas, «são pessoas que precisam de ser encontradas, amadas e restauradas na vertente física, material, social, moral e espiritual», acentua este “voluntário da solidariedade”, anotando que a pobreza é, também, «uma consequência da falta de amor para com o próximo».

Ajuda do Banco Alimentar
Para ajudar é preciso ser ajudado e, no caso da Conferência de S. Pedro de Cantanhede, o maior apoio é do Banco Alimentar que, todos os meses, entrega a esta sociedade vicentina «muitos quilos de produtos alimentares» (ver números), entregues também todos os meses aos seus protegidos.

Outro tipo de ajuda que os vicentinos recebem vem da parte dos paroquianos. No primeiro sábado e domingo de cada mês os vicentinos colocam à porta da Igreja um cesto para recolha de alimentos, «mas, infelizmente, estas dádivas estão a decair consideravelmente», lamenta o responsável. Por outro lado, a Câmara Municipal de Cantanhede também oferece todos os anos pelo Natal perto de uma centena de cabazes alimentícios e disponibiliza, todos os meses, uma viatura e dois funcionários «para ir buscar os alimentos ao Banco Alimentar», situado em Cernache (Coimbra).
A paróquia de S. Pedro, por sua vez, disponibiliza as instalações no Centro Social, onde a Sociedade Vicentina tem a “mercearia” e onde a direcção reúne, «todas as terças-feiras».

Autarquia oferece cabazes de Natal
À semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, a Câmara de Cantanhede vai oferecer à Conferência de S. Pedro da Sociedade de S. Vicente de Paulo cerca de 85 cabazes de Natal que a referida instituição de solidariedade social irá (em nome da autarquia) distribuir pelas famílias mais carenciadas do concelho. Constituídos por bens de primeira necessidade e por alguns produtos que habitualmente fazem parte da consoada, os cabazes vão ser formalmente entregues aos representantes da Conferência de S. Pedro no próximo dia 17 de Dezembro (quinta-feira), pelas 14h30, na Casa Francisco Pinto. Com esta iniciativa de carácter social a edilidade pretende, mais uma vez, proporcionar a alguns agregados familiares que enfrentam dificuldades económicas, já sinalizados pelos Serviços de Acção Social, a possibilidade de viverem a consoada de forma mais condizente com o espírito natalício que deve estar presente em todos os lares.