Por Helena Geraldes, in Jornal Público
Os participantes na grande cimeira do clima têm que aproveitar uma "oportunidade que o mundo não se pode dar ao luxo de perder"
"O mundo deposita as suas esperanças em vocês", disse o dinamarquês Lars Loekke Rasmussen, cujo país vai presidir à conferência até 18 de Dezembro, dirigindo-se aos delegados presentes no Bella Center em Copenhaga. É daqui que deverá sair um novo acordo mundial para combater o aquecimento global, substituto do Protocolo de Quioto, que expira em 2012.
A cerimónia de abertura começou com a projecção de um filme-catástrofe sobre os impactos das alterações climáticas nos povos do mundo.
"As alterações climáticas não conhecem fronteiras. Nada discriminam. Afectam-nos a todos. E se hoje estamos aqui é porque estamos determinados a agir", salientou Rasmussen.
No entanto, o caminho de Copenhaga está longe de ser fácil. "Estou dolorosamente consciente de que vocês têm perspectivas diferentes sobre o âmbito e o conteúdo deste acordo", acrescentou, apelando a um consenso "justo, equilibrado, aceitável para todos", mas também "eficaz e operacional".
"O acordo que convidamos todos os dirigentes a assinar afectará todas as nossas sociedades em todos os seus aspectos", notou. E, segundo Rasmussen, a missão "está ao nosso alcance".
O chefe do Governo dinamarquês anunciou que 110 chefes de Estado e de Governo, incluindo o Presidente norte-americano Barack Obama, anunciaram já a sua presença em Copenhaga para o encerramento da conferência, a 17 e 18 de Dezembro. Durante estes dias, os líderes vão tentar ultimar um acordo sobre a redução das emissões de gases com efeito de estufa para os países desenvolvidos até 2020 e recolher financiamento para ajudar os mais pobres.
A presença de tantos líderes mundiais "reflecte uma mobilização sem precedentes da determinação política para combater as alterações climáticas. Representa uma enorme oportunidade. Uma oportunidade que o mundo não se pode dar ao luxo de perder", disse ainda Rasmussen.
Das palavras aos actos
Yvo de Boer, secretário executivo da Convenção da ONU para as Alterações Climáticas, apelou aos delegados para se concentrarem "nas propostas práticas e sólidas, que permitam lançar uma acção rápida" contra as alterações climáticas. "Os países em desenvolvimento esperam, desesperadamente, uma acção concreta e imediata", contra as emissões de gases com efeito de estufa e para adaptar as suas nações ao novo cenário climático, lembrou.
De Boer leu o testemunho de Nyi Lay, uma criança asiática de seis anos, vítima de um ciclone devastador que causou a morte aos seus pais e irmão. Mas "o tempo das declarações e de esgrimir posições já acabou: utilizem o trabalho já feito e transformem-no em actos", lançou.
Na cerimónia, o antigo vice-Presidente norte-americano, Al Gore, salientou a "urgência" da acção. "A crise só está a piorar a grande velocidade. Precisamos de decisões políticas à escala planetária", acrescentou. "Já há alterações significativas, nomeadamente nos Estados Unidos e China, mas estas mudanças não vão tão longe quanto aquilo que seria de esperar", notou.
Ontem, a África do Sul propôs limitar as suas emissões, cujo aumento será inferior em 42 por cento até 2025, em relação às previsões actuais, se os países emergentes receberem ajudas para desenvolverem energias limpas.
O Protocolo de Quioto vincula os países industrializados a reduzir as suas emissões até 2012, a uma média de 5,2 por cento, em relação aos níveis de 1990. Mas mesmo os seus apoiantes reconhecem a insuficiência da meta para travar o aumento das temperaturas, especialmente se nos lembrarmos que os Estados Unidos se recusaram a ratificá-lo.
Desta vez, a ideia é envolver todos os grandes emissores, incluindo a China e a Índia, para evitar mais secas, desertificação, incêndios florestais, extinção de espécies e aumento do nível dos mares. O encontro, de 7 a 18 de Dezembro, vai testar até que ponto as nações em desenvolvimento vão insistir nas suas posições, nomeadamente na exigência de os países ricos reduzirem as emissões em, pelo menos, 40 por cento até 2020. Uma meta superior àquelas que estão em cima da mesa.
Os Estados Unidos declararam ontem que não vão avançar sozinhos. "Actualmente, os Estados Unidos são responsáveis por um quinto das emissões globais, o que significa que quatro quintos surgem de outros países. O que significa que, a menos que consigamos um acordo global, não iremos resolver o problema", disse o chefe da delegação americana, Jonathan Pershing, citado pelo The Guardian.

