Helena Norte, in Jornal de Notícias
Trabalhadores com escolaridade mínima 20 vezes mais expostos à pobreza
Quem tem apenas o Ensino Básico corre um risco 20 vezes acrescido de pobreza em relação a uma pessoa com curso superior. Ao fim de dez anos de funções, os trabalhadores pouco qualificados ganham, em média, apenas mais 3% do que no início.
A relação entre o grau de qualificação e o nível sócio-económico é forte e directa, explicou ao JN Luís Capucha, presidente da Agência Nacional para a Qualificação. Uma das evidências de que o risco de pobreza diminui de forma inversamente proporcional ao grau académico - basta ter completado o Secundário para ser oito vezes mais baixo do quem tem o Básico - é a progressão remuneratória.
Um trabalhador com 9.º ano ou menos de escolaridade, ao fim de dez anos de integração no mercado de trabalho ganha, em média, mais 3% do que quando iniciou funções. Já alguém com qualificações ao nível do Secundário duplicou o salário e, com formação superior, triplicou os rendimentos. Estas diferenças não se sentem logo no início da carreira profissional, mas são relevantes quando se faz uma análise a médio prazo, sublinha o sociólogo.
Mesmo num contexto de crise como o actual, quem tem mais habilitações, está mais protegido em relação ao desemprego, dado que muitos dos postos de trabalho perdidos no ano passado eram ocupados por pessoas com escolaridade inferior ao 9.º ano.
Por outro lado, "assiste-se a uma rarefacção dos empregos menos qualificados", adverte o responsável da Agência Nacional para a Qualificação, acrescentando que os postos que estão a ser criados destinam-se maioritariamente a qualificados com 12 anos de escolaridade ou curso superior.
Se a escolaridade ajuda a prevenir contextos de exclusão, a verdade é que a escola também penaliza as crianças e os jovens oriundos de famílias de baixos recursos económicos e culturais. Um efeito de feedback que Luís Capucha considera prioritário inverter com medidas de diferenciação positivas, que incentivem a permanência dos jovens no sistema de ensino e formação pelo menos até aos 18 anos de idade.
Nos últimos três anos, o número de jovens que abandonam precocemente o sistema de ensino tem vindo a diminuir e, a manter-se esta tendência, a breve prazo, o número de jovens que não concluiu o 9.º ano será residual e os jovens que não acabam o Ensino Secundário serão menos de 10%, de acordo com cálculos de Luís Capucha.

