Por Aníbal Rodrigues, in Jornal Público
Presidente da comissão de coordenação prevê uma aceleração da execução, ainda este ano, do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN)
Em 1997, cada habitante da Região Norte produzia 63,6 por cento da riqueza criada em média na União Europeia. Porém, dez anos depois, em 2007, essa percentagem piorou, cifrando-se em 60,3 por cento, conforme dados do Eurostat divulgados ontem pelo JN. Paralelamente, Lisboa apresentava 106,2 por cento em 1997 e caiu para 104,7 por cento em 2007. Para o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR), Carlos Lage, só há uma conclusão: "Os dois maiores aglomerados urbanos e produtivos do país estão a enfrentar dificuldades. É um problema nacional, não diz respeito apenas à Região Norte, que perdeu na convergência, mas Lisboa também perdeu."
O presidente da CCDRN lembra que a "economia do Norte está mais exposta porque tem uma maior vocação exportadora", enquanto "a economia de Lisboa produz mais para a procura interna". Além disso, já em 2002 e 2003 o Norte sofrera uma crise mais local, cuja fase de convalescença foi prejudicada pela liberalização ao nível da entrada, na Europa, de produtos de baixo preço. Segundo Carlos Lage, em 2007 a economia nortenha cresceu 2,5 por cento, mas 2008 foi de estagnação e em 2009 abateu-se a crise mundial. "Desta vez é a mais profunda e grave recessão dos últimos 50 anos que, mais uma vez, flagelou a Região Norte", salienta.
Porém, para o responsável da CCDRN, "há direito à esperança" fundado, por exemplo, "no aumento das exportações de média e alta tecnologia". Por outro lado, conforme constata, "há consciência do esgotamento do velho modelo de crescimento e da necessidade de mudar" para produtos posicionados mais alto na escala de valor e com uma imagem superior. É uma mudança que, noutras regiões industriais europeias, aconteceu nas décadas de 1980 e 1990, mas que no Norte só arrancou neste século. "E é neste período de dificuldades, de austeridade, que é preciso apoiar esta onda de mudança; é isso que temos estado a fazer na CCDRN."
Carlos Lage defendeu também, em declarações à Lusa, que 2010 será um teste para a execução dos fundos comunitários do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) na região. Já foram aprovadas candidaturas na Região Norte de 1200 milhões de euros de um total de 2700 milhões. "A execução do QREN é o calcanhar de Aquiles do programa, uma vez que em matéria de aprovação de candidaturas e compromissos financeiros tudo está bem, quer a nível regional quer nacional", adiantou. "Os compromissos assumidos nos vários programas temáticos, quer a norte quer a nível nacional, estão muito avançados, o problema está na execução, que, creio, vai acelerar muito em 2010."