11.6.10

Descidas nas vendas levam lojas a antecipar promoções

Virgínia Alves*, in Jornal de Notícias

Os comerciantes falam em quebras acentuadas das vendas e utilizam a baixa de preços, mesmo antes da época de saldos, para atrair clientes. A montante, as indústrias têxtil e do calçado, mais viradas para a exportação, acreditam que este ano será positivo.

São duas faces de uma mesma moeda. Por um lado, temos os comerciantes que fazem contas à vida, e que numa tentativa de reduzirem os impactos negativos da quebra de vendas apostam nas promoções, muito tempo antes da época de saldos, a 15 de Julho.

Por outro lado, temos a indústria têxtil e do calçado que por não estar dependente do mercado interno - a maior fatia da produção é para vender nos mercados externos -, não só não apresenta queixas como fala em ano positivo.

"Hoje, toda a gente faz promoções, é uma forma de marketing", sublinha o presidente da Confederação do Comércio Vieira Lopes, acrescentando que "as promoções conseguem manter o nível de vendas e também baixar os stocks, que representam grandes investimentos".

Situações que já se verificam nas lojas Origem, em que são os saldos a altura de escoar os stocks mais antigos, mas, para já, estão a fazer promoções que começaram há 15 dias e vão durar até aos saldos.

A marca Arneto também aproveita os saldos para fazer o escoamento dos artigos desta estação e aproveitam para escoar artigos de colecções anteriores com descontos que vão desde os 50% até aos 70%. Mesmo assim tem sido difícil - "há excesso de lojas e falta de poder financeiro dos consumidores, que preferem comprar o mais barato, mesmo que não tenha qualidade", diz uma colaboradora.

O presidente da Confederação do Comércio diz não ser possível ainda quantificar as quebras no sector têxtil, "mas não andarão longe dos 10 a 15%", sublinhando que "com o menos rendimento disponível e mais desemprego, as pessoas limitam-se a comprar bens prioritários, e mesmo a alimentação apresenta uma quebra na ordem dos 3 a 5%". Uma situação que para Vieira Lopes, se vai traduzir a curto e médio prazo "em mais desemprego e no encerramento de mais estabelecimentos".

A montante do comércio estão, por exemplo, as indústrias têxteis, cuja produção é maioritariamente para exportação e "que em Março e Abril registou um aumento de encomendas e de actividade, o que não tem um reflexo imediato na facturação, mas o número de encomendas em Março foi melhor que no mesmo mês do ano passado", referiu João Costa, da Associação de Têxtil de Portugal (ATP).

No entanto, os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) ainda mostram que a exportação de vestuário em Abril diminuiu 11,4%, face ao mesmo mês de 2009, e o calçado caiu 8%.

O calçado, cuja produção é quase toda para exportação (95%), não obstante as quebras de consumo e o aumento das matérias-primas, admite, através da associação do sector (APPICAPS), que 2010 será um ano positivo para a expansão internacional.

* Com Ana Paula Lima