11.6.10

Ensino ainda é afectado pela tradição

Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias

O pessoal escolar é na grande maioria feminino, mas os sistemas de ensino são geridos por homens. Esta é a constatação de um estudo europeu, que alerta para a urgência de mudar preconceitos como o que atribui menor jeito das raparigas para a Matemática.

Em quase todos os países europeus, as mulheres são maioritárias nos domínios da educação, saúde e bem-estar, ciências humanas e artes, enquanto os homens são maioritários nas áreas de engenharia, indústria e construção. De acordo com as conclusões de um estudo divulgado pela Comissão Europeia, esta é uma das consequências da desigualdade entre géneros, que reflecte ainda uma visão preconceituosa e tradicionalista.

Alguma coisa mudou no nível de instrução dos homens e das mulheres ao longo dos últimos 50 anos, constatou a comissária responsável pela Educação, mas os governos devem contrariar a manutenção dos papéis tradicionais de cada sexo, apesar das mudanças. Assim, havendo dados positivos de evolução, também foram nascendo desequilíbrios. Androulla Vassiliou deu um exemplo: "Na sua maioria, quem obtém um diploma são as raparigas e quem abandona a escola são os rapazes".

As desigualdades podem estar a ser eco de esterótipos tradicionais. Num terço dos sistemas de ensino europeus, os rapazes revelam menores competências na leitura, enquanto as raparigas têm desempenho mais fraco em Matemática. Apenas a Irlanda, o Reino Unido e a Comunidade flamenga da Bélgica têm em prática programas especiais para contrariar esta "tendência".

A Comissão considera que há formas de intervenção capazes de alterar este panorama. Uma delas é o de proporcionar aos jovens uma orientação profissional mais eficaz. Mas apenas metade dos países europeus recorrem a este instrumento e, na maior parte dos casos, com o intuito de incentivar as raparigas a escolher carreiras no domínio das tecnologias e das ciências naturais. "Sente-se a falta de estratégias nacionais globais para combater os esterótipos sexistas nas escolhas profissionais e de iniciativas dirigidas aos rapazes", assinala o relatório.