Por Ana Cristina Pereira, em Bruxelas, in Jornal Publico
O sociólogo Sérgio Aires não está exultante com a nova estratégia europeia. E não o escondeu na 9.ª Mesa-Redonda Europeia sobre a Pobreza e Exclusão Social, que no início desta semana juntou mais de uma centena de especialistas e decisores políticos em Bruxelas. Parece-lhe que se perde "uma parte substancial do pouco que fora bom na anterior" - a que adoptou o nome de Lisboa.
O presidente do Fórum para a Inclusão Social dá o exemplo do método aberto de coordenação. Esse instrumento definido pela Estratégia de Lisboa, em 2000, pressupõe "objectivos comuns, instrumentos comuns, avaliações comuns". Ora, a nova estratégia traça uma meta quantitativa e deixa "cada um fazer como quiser", o que lhe parece um "retrocesso". "E estamos a falar em tirar 20 milhões da pobreza quando já há quem diga que a pobreza cresceu 30 milhões nos últimos dois anos."
"Era suposto sair daqui com uma ideia clara sobre o que se fará nos próximos anos", comentou aquele membro da Rede Europeia Antipobreza. "Saio daqui com a certeza de que não há ambição política nem liderança política [em matéria de luta contra a pobreza]. Os Estados-membros estão concentrados no pacto de estabilidade, na redução do défice, no crescimento. Haver falta de empenho político, numa altura como esta, é algo que me deixa perplexo."
Pouco antes, o comissário europeu do Emprego e dos Assuntos Sociais, László Andor, defendera o oposto: "Em Junho, os líderes da UE comprometeram-se com a nossa nova estratégia de empregos e crescimento inteligente, sustentável, inclusivo - a Europa 2020. Esta estratégia deu um novo ímpeto à dimensão social da Europa, mandando uma mensagem política poderosa". E, na sua opinião, um dos seus maiores feitos é haver uma meta a alcançar em matéria de pobreza.
Para concretizar os objectivos, Andor pretende lançar uma Plataforma Europeia contra a Pobreza. Está decidido a "encorajar a participação". E quer ver a "plataforma usar todos os recursos disponíveis - especialmente o Fundo Social Europeu, que é de dez mil milhões por ano, até 2013". "Nada disto será fácil. E sei que, em muitos casos, requer uma grande mudança de atitude", concluiu, no fim do evento organizado pela Comissão Europeia e pela presidência belga da UE.

