Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
A recessão prevista pelo Fundo Monetário Internacional para Portugal, devido às medidas de redução do défice anunciadas na semana passada, poderá atirar o desemprego para cima dos 11%, no próximo ano. Serão mais de 600 mil pessoas sem trabalho.
Sem crescimento económico, não se cria emprego nem se baixa o desemprego. E foi isso mesmo que o FMI ontem previu para Portugal: conhecidos os cortes de despesa e aumento de impostos anunciados por José Sócrates, Portugal voltará a entrar em recessão económica, já no próximo ano. Se acordo com a estimativa do organismo internacional, o país ficará 1,4% mais pobre.
O número foi actualizado ontem pelos responsáveis do FMI, já que o relatório sobre a economia mundial ainda não tomava em linha de conta o impacto das últimas medidas contra o défice. O documento falava, ainda, de um crescimento de 1,1%, este ano, e de zero para o próximo, a que corresponderia uma taxa de desemprego de 10,9%.
"Com a nova previsão de crescimento negativo, a taxa de desemprego deverá ficar bem acima dos 11%", afirmou João Loureiro, da Faculdade de Economia do Porto. Tomando como ponto de partida os dados mais recentes do Instituto de Estatística, uma taxa de 11% corresponderia a 614 mil pessoas sem trabalho.
Francisco Lima, docente no Técnico de Lisboa, concorda: "Se o FMI fizesse as contas hoje, com certeza que falaria de um desemprego mais alto", tanto que já hoje a taxa está próxima dos 11%, mesmo antes de as mais recentes medidas estarem no terreno (no segundo trimestre, o INE fixava a taxa de desemprego nos 10,6%).
Governo desvaloriza
"As estimativas são estimativas. Como vimos, as de 2010 falharam significativamente, de todas as organizações, e o crescimento da economia portuguesa foi maior", respondeu o ministro da Economia, Vieira da Silva, citando o exemplo da previsão para este ano, que acabou de ser aumentada de 0,3% para 1,1%. Mas os economistas ontem ouvidos pelo JN são taxativos. "Não se pode ser sol na eira e chuva no nabal: não se pode reduzir o défice público sem prejudicar a economia", afirmou João Loureiro. A necessidade de equilibrar as contas do Estado é assumida por ambos.
Até quando empresas e trabalhadores sofrerão com o impacto do aperto de cinto do Estado é pergunta sem resposta certa, mas João Loureiro arrisca dizer que, nos próximos cinco anos, a situação não deverá melhorar, até porque os principais parceiros comerciais de Portugal terão um crescimento baixo, ajudando pouco às exportações nacionais.
A boa notícia, admite, é que o fraco crescimento da Zona Euro deverá manter baixas as taxas de juro, no futuro próximo.