Por Maria Lopes, in Jornal Público
Rogério Santos, director do centro de sondagens da Universidade Católica, prepara inquérito à boca das urnas no dia 23 de Janeiro
Os resultados das sondagens sobre presidenciais que dias depois do anúncio da recandidatura de Cavaco Silva lhe davam uma vitória esmagadora sobre Manuel Alegre já não deverão repetir-se nos próximos inquéritos. Pelo menos não com valores tão expressivos: "A intenção de voto vai-se aproximando mais da verdade à medida que nos aproximamos da data das eleições. O número de indecisos vai-se reduzindo progressivamente", diz Rogério Santos, director do Centro de Estudos de Sondagens e Opinião Pública (CESOP) da Universidade Católica Portuguesa.
O CESOP faz sondagens políticas há quase 20 anos, fornecendo especialmente o grupo RTP e, depois do barómetro divulgado no final de Outubro - segundo o qual Cavaco recebia 63 por cento das intenções de voto e Manuel Alegre apenas 20 por cento -, prepara-se agora para fazer uma sondagem à boca das urnas no dia das eleições, a 23 de Janeiro. A estratégia para as presidenciais vai limitar-se a essa sondagem.
Apesar da tendência para a diminuição de indecisos, é certo que por vezes o número continua a ser grande, pelo que os técnicos têm que fazer extrapolações - e o risco do erro está sempre lá, reconhece Rogério Santos. "Uma sondagem é sempre uma previsão porque a verdadeira sondagem é feita quando as pessoas votam em urna real, são os resultados."
Ainda que não seja "muito significativo", também é verdade que quanto maior a amostra maior a fiabilidade dos resultados. Há sempre, porém, "variáveis que não se conseguem controlar", lembrando as legislativas espanholas, em Março de 2004, aquando do atentado de Atocha, em Madrid: por inépcia do Governo em lidar com o caso, foi penalizado três dias depois nas urnas, quando nada o fazia prever.
E o resultado de uma sondagem prejudica ou beneficia quem está na frente? "As respostas apontam sempre para os dois sentidos", diz Rogério Santos, remetendo para as variáveis. Mas ajuda a mudar a opinião do eleitor? "Nós sabemos que a mudança de opinião não é tão grande quanto as sondagens poderão fazer crer que há", afirma o director do CESOP.
"Uma sondagem é um instrumento, um elemento de aferição de comportamentos" e de "sentimentos". Por exemplo: "Hoje há um grande sentimento de insegurança a nível financeiro e a nível de emprego: qualquer inquérito dá sempre conta desse efeito. Essas sondagens são autênticos barómetros, podem ser indicadores, e muitos governos usam os inquéritos para ver o sentido" em que vão as suas políticas. Mas daí a "dizer que uma sondagem pode ou não fazer cair [um Governo] é entrar um pouco na especulação, na teoria da conspiração", afirma, cuidadoso, Rogério Santos, lembrando os muitos "instrumentos" de que a democracia dispõe para derrubar um executivo, como uma greve geral ou até manchetes de jornal.
ERC pede maior afinação
As sondagens costumam apresentar um desvio de cerca de cinco por cento, valor suficiente para que os pequenos partidos troquem de posições no ranking.
São conhecidas as críticas do CDS-PP e do PCP às sondagens. Rogério Santos estabelece um paralelismo entre o que acontece com as sondagens políticas e os estudos de audiências das estações de rádio - feitos por inquérito sobre qual a rádio que o inquirido ouviu na véspera: as rádios locais, que têm menos ouvintes, "são sempre as mais penalizadas".
O responsável do CESOP desvaloriza estas críticas. Mas, no ano passado, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) chamou as empresas de sondagens acreditadas e foi decidido melhorar a metodologia, incluindo uma maior afinação das amostras e a necessidade de aproximar os resultados às décimas.
No mercado português, haverá quatro a cinco empresas que elaboram sondagens políticas, tendo como clientes os media e os partidos. O CESOP, porém, "por uma questão de princípio, não trabalha para os partidos".

