in Correio da Manhã
Restaurante social de Viseu serve diariamente cem refeições a pessoas sem meios de subsistência.
Na rua do Hospital, em Viseu, os extremos tocam--se: o luxo e a pobreza estão à distância de uma parede. Nas traseiras de uma pousada com uma mão-cheia de estrelas onde abundam o charme, o requinte e o luxo fica um edifício da Santa Casa da Misericórdia que serve de restaurante social e que é frequentado por uma centena de pessoas. Ali, cidadãos pobres e alguns solitários fazem uma refeição por dia e tratam da higiene, de forma gratuita. É a casa da sopa dos pobres da Cidade de Viriato.
Esta valência é palco de solidariedade todos os dias do ano, mas vai esmerar-se no Natal, de forma a proporcionar aos utentes umas festas "minimamente felizes". Vão receber cabazes e viver uma noite de consoada onde não vão faltar o bacalhau, as batatas e as couves cozidas.
"Não lhes vai faltar nada", garante Magalhães Soeiro, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Viseu, frisando que o espaço funciona "como o fim da linha para muitas pessoas". Adianta que nos últimos meses, por causa da crise, se tem assistido a uma autêntica corrida à sopa dos pobres. Mas cada caso é analisado. "Todos os dias temos novas inscrições. Ninguém fica sem comer uma refeição, mas não toleramos oportunistas", salienta o provedor.
A maioria das pessoas que frequentam o restaurante social tenta fazê-lo de forma anónima, para não expor a miséria em que caiu. Outros assumem-na e encaram-na como uma "fatalidade". António Ferreira, de 59 anos, é uma das pessoas que todos os dias ali fazem uma refeição devido à sua precária situação social.
"Se não fosse isto, não sei o que seria da minha vida. Pelo menos fome não passo", adianta o homem que está reformado mas cujo dinheiro que recebe, garante, "não serve para nada".
Já António Leitão, de 40 anos, diz que "se não fosse a Santa Casa morria à fome". "Infelizmente, a vida não me correu como eu queria. Caí na pobreza, e não tenho ninguém", explica, lamentando-se da forma como vai viver o Natal. "É uma altura muito difícil de passar porque me falta tudo. Vou tentar passá-lo como mais um dia da minha vida", afirma António Leitão.
"PEDIDOS SUBIRAM 40%": José Borges, Presidente da Cáritas Diocesana de Viseu
Correio da Manhã – Aumentou o número de pessoas a pedirem ajuda às Cáritas Diocesanas?
José Borges – Até 31 de Outubro a Cáritas de Viseu registou um aumento de pedidos de mais de 40% quando comparado com 2009.
– Há pessoas que chegam desesperadas?
– Sim. Alguns resistem em não vir por vergonha. Aquilo que mais me preocupa é a situação dos novos pobres, que caíram na pobreza e têm vergonha de o assumir.
– Como resolvem o problema?
– Falamos com eles por telefone e oferecemos ajuda através de cheques-brinde de compra em supermercados. Este ano já enviámos cem vales de trinta euros.
"É O NATAL MAIS TRISTE PARA NÓS"
João, de 5 anos, pediu duas coisas ao Pai Natal: uma bola de futebol e uma consola de jogos. As irmãs, de 12 e 13 anos, não pediram "nada de especial" porque sabem das dificuldades que a mãe passa para todos os dias pôr o que comer na mesa. O pai, que era o sustento da família, faleceu há poucos meses, e por isso ficaram "numa situação muito complicada". Esta família de Moimenta da Beira é uma das que estão sinalizadas pela acção social da Câmara e a quem foi entregue um cabaz de Natal, onde estava a bola do João.
"É o Natal mais triste de sempre para a família. Perdi o meu marido e estou numa situação difícil para sustentar três filhos", desabafa Maria Teresa Soares, de 41 anos, agradecendo o apoio que tem recebido.
Alexandra Marques, vereadora da autarquia, diz que "vão ser distribuídos vinte cabazes" a várias famílias. Os bens são angariados pelos escuteiros Guias da Europa.