in Jornal Público
As situações de "miséria e exclusão" na comunidade portuguesa em França são uma das preocupações da Santa Casa da Misericórdia de Paris, que prevê este Natal acções de solidariedade para atender aos casos mais difíceis. Mas estas iniciativas de pouco servirão enquanto quase metade dos residentes naquele país for operários e cerca de um terço não tiver formação qualificada.
"O problema" da falta ou fraca formação profissional é comum à velha e à nova geração de emigrantes e marca também os luso-descendentes, disse à Lusa Aníbal de Almeida, sociólogo e provedor da Misericórdia de Paris, que trabalha com a comunidade em França desde os anos 1960. "Há 44 por cento de operários, num universo de 348.819 activos portugueses em França, em 2009", referiu, citando estatísticas oficiais.
O perfil de emprego e qualificação entre a nova geração de portugueses de França também levanta preocupações. "Verificamos, pelas estatísticas de 2008, que 14 por cento dos jovens de origem portuguesa nascidos em França terminam a escolaridade sem diploma e mais de 20 por cento não têm um diploma", diz o provedor.
O provedor recorda os tempos em que tinha que combater a ideia enraizada de que a formação não era importante para "ganhar bem a vida". "Havia duas coisas que dizíamos às pessoas", lembra: "Uma era que arranjassem formação. A outra é que declarassem (ao fisco) o salário que recebessem, porque disso iria depender o nível de reforma. Foi o que aconteceu; muitos emigrantes portugueses hoje têm reformas inferiores porque trabalhavam sem declarar rendimentos." Lusa