15.12.10

Pagamentos em atraso castigam mais a construção

Catarina Craveiro, in Jornal de Notícias

Portugal é o país da União Europeia com o pior índice de pagamentos, graças aos atrasos do Estado. A construção é o sector que mais sofre com esta prática. Já no que respeita aos incobráveis, os serviços prestados pelos advogados são os mais afectados.

Segundo o European Payment Index 2010, apresentado ontem pela Intrum Justitia [empresa que actua no sector da cobrança de dívidas], Portugal surge no ranking com 185 pontos, quando a média europeia é de 155 pontos. O que faz com que o país seja o pior em índice de pagamentos.

Analisando por sectores, a construção e a saúde são os sectores que mais sofrem com os pagamentos em atraso. "Recebem mal e com bastantes atrasos, porque tem um peso do Estado bastante grande. Pela positiva destaco o sector das 'utilities', porque são serviços públicos de que as pessoas estão tão dependentes que têm de pagar", explicou o director-geral da Intrum Justitia. Contactada pelo JN, a AECOPS - Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas confirmou este cenário: Esta questão não é nova e está a acentuar-se cada vez mais", garantiu o vice-presidente da associação. Os principais causadores destes atrasos são as autarquias. "Estamos a chegar ao ponto em que quando as autarquias estão em jogo, os bancos já não adiantam o pagamento às empresas, pois já não confiam nas câmaras", afirmou Tomás Gomes. Nas condições actuais, recorrer à banca torna-se difícil e "a solução é parar as obras".

Quanto aos incobráveis (facturas que não são recuperadas), os serviços profissionais, como a engenharia e os advogados, são dos mais afectados, devido ao tipo de contrato que existe entre empresas e esses serviços, que "não são os fundamentais para as empresas", explicou a Intrum Justitia. O sector imobiliário é também um dos mais afectados, assim como a educação, nomeadamente ao nível dos colégios e infantários, que têm muitas dificuldades em cobrar as facturas a tempo.

De acordo com o director-geral da Intrum Justitia, Portugal não é o país com prazos mais elevados, nem aquele com mais incobráveis, mas é aquele em que os prazos mais são excedidos. Um dos principais causadores deste problema é o Estado, uma vez que os pagamentos são feitos em períodos muito mais dilatados do que os da média europeia, em 141 dias face aos 63 dias dos restantes países.

O cenário é semelhante quando se observam os valores das empresas, que demoram em média 88 dias a pagar, contra os 55 dias de média verificados nos restantes países, assim como os dos consumidores, que se atrasam a pagar em média 62 dias, face aos 39 registados em média na Europa.

A recuperação económica na Europa está ameaçada por 300 mil milhões de euros de dívidas, um valor igual à dívida pública da Grécia. No caso português, a dívida é de seis mil milhões de euros.