Por Margarida Davim, in Sol
Desemprego e cortes nos apoios sociais estão a gerar novos pobres num concelho com muitos ricos. Câmara, escolas e instituições nunca receberam tantos pedidos de ajuda.
Teresa (nome fictício) não conseguiu conter as lágrimas ao pedir à escola da filha que lhe desse as refeições que ela não tem forma de pagar. Com um ordenado de 500 euros e 400 de renda, a escriturária teve de perder a vergonha e recorrer à assistente social do Agrupamento de Escolas Ferreira de Castro, em Sintra, depois de o divórcio ter feito cair sobre os seus ombros todas as despesas da casa.
Teresa precisava que a filha comesse todos os dias no refeitório, para fazer uma refeição quente por dia. Mas o horário da tarde tornava difícil o pedido. «Os alunos só têm direito a almoço se tiverem aulas da parte da manhã. Por isso, às vezes temos de dar um jeito aos horários para conseguir ajudar», admite o director António Castelo Branco, já habituado a encontrar os sinais «da pobreza escondida» nas escolas que dirige em Algueirão.
«Aparecem com dores de barriga e não se conseguem concentrar. Às vezes reconhecem que têm fome», explica a assistente social da Escola de Ouressa, Elizete Diogo.
«Os pais ensinam os filhos a mentir para esconder a miséria», aponta Castelo Branco, que há dias descobriu uma aluna de 12 anos que às quatro da tarde ainda não tinha comido nada. «No 1.º ciclo, além do almoço damos fruta e leite ao longo do dia. Mas a partir do 5.º ano, a coisa complica-se, porque só damos almoço», comenta o director.
Para ajudar, há na sala dos professores um mealheiro onde se juntam moedas para levar ao bar quem tem fome. E na despensa da escola, Elizete Diogo acumula comida, roupa e cobertores para dar aos que precisam. «Até já fizemos uma acção de formação para os pais com dicas para sobreviver à crise», conta.
«É muito notório que as coisas estão piores. Já não é só quem vive em bairros sociais que precisa de apoio», acrescenta António Castelo Branco.
Para Paula Simões, vereadora da Acção Social da Câmara de Sintra, a realidade contada por quem está nas escolas não é novidade. «Nos últimos seis meses a situação social degradou-se muito no concelho», afirma, sem hesitar em usar a expressão «novos pobres» para definir a realidade de muitos dos habitantes do segundo concelho mais populoso do país.