17.1.11

Melhor do que Lisboa a incluir os estrangeiros

Dora Mota, in Jornal de Notícias

Agência para a Vida Local distinguida com prémio nacional de boas práticas de integração

Em Valongo, há um leve troféu em metal dourado ao qual concorreram também as Câmaras de Lisboa e Sintra. É um prémio que distingue as "Melhores Práticas Autárquicas em Integração de Imigrantes 2010". A Agência para a Vida Local valonguense ganhou-o.

Brasileiro João e a ucraniana Svitlana foram ajudados pela Agência Para a Vida Local de Valongo


A ucraniana Svitlana e o brasileiro João são duas das razões para que o prémio nacional, recentemente atribuído, tenha sido entregre ao município de Valongo, enquanto concelhos como Lisboa e Sintra - com muito mais imigrantes e maior tradição de integração - tenham sido distinguidos com menções honrosas.

Svitlana, de 47 anos, há nove anos em Portugal, recorreu ao Clube de Emprego e Formação, a sua filha de 20 anos estuda na Escola Profissional de Sobrado, para a qual foi encaminhada através da Agência de Vida Local (AVL).

João, brasileiro de 36 anos e em Portugal há quatro anos, é presença frequente no Espaço Internet e já teve ajuda para tratar de documentos e obter informações no Centro Local de Apoio à Integração do Imigrante.

Todos estes nomes estão em placas na mesma fiada de portas de vidro, sob os arcos do edifício do Fórum Cultural de Ermesinde, mesmo no centro da cidade, no Parque Urbano do Dr. Fernando Melo. João, do estado da Paraíba, fez parte do público do Festival Pela Interculturalidade. A filha de Svitlana foi uma das bailarinas que esteve no palco, com o grupo de dança da Associação de Imigrantes de Leste do Porto Kalina.

O festival é uma das iniciativas do projecto"Valorizar a Diferença", que convenceu o júri da Plataforma sobre Políticas de Acolhimento e Integração de Imigrantes (composto por instituições reputadas, como a Fundação Calouste Gulbenkian, as centrais sindicais e da indústria e várias fundações e associações), a eleger Valongo entre as 13 autarquias candidatas ao prémio relativo ao ano de 2009.

Foram várias as ramificações desse projecto, orientado para a sensibilização da comunidade para o acolhimento das minorias, entre elas os imigrantes residentes no concelho.

Organizou-se um evento chamado "Biblioteca Humana" nas escolas secundárias e EB 2/3, onde pessoas de grupos minoritários (como um paraplégico que é campeão paralímpico, um imigrante, um cego e um activista gay) responderam a perguntas dos alunos sobre as suas vidas.

Eunice Neves, responsável da AVL, disse ao JN que a iniciativa se revelou um êxito muito acima do previsto quanto ao objectivo de desmontar estereótipos.

"Para muitos jovens, foi a primeira oportunidade que tiveram de falar de forma directa com pessoas com deficiência ou com outra nacionalidade", contou. Há valências do projecto que têm balcão, como o Espaço Emprego Imigrante, mas muito trabalho se faz nas empresas, sensibilizando os empregadores para a necessidade de fornecer aos estrangeiros um contrato de trabalho que lhes permita obter o visto de residência.

Aumentar a participação cívida dos imigrantes, dar-lhes informação, promover a multiculturalidade é um trabalho com muitas faces. Pode passar apenas por ajudar um estrangeiro a interpretar uma carta, como já aconteceu. A encontrar escolas, a conseguir o reconhecimento das habilitações. Ou então a dar-lhes um palco para dançar, como a filha de Svitlana.

A ucraniana, cozinheira no Centro Social da Vitória no Porto, começou por viver em Paredes e sempre se sentiu muito amparada em Portugal. "Gostava que escrevesse que os patrões que tive, quando trabalhei numa fábrica de Astromil, me deram até móveis", referiu.

João alinha com Svitlana: "Gosto das pessoas daqui, gosto das facilidades, de ter transportes. É menos difícil do que tínhamos".
Eunice Neves ouve com gosto, mas garante que a sua equipa vai continuar a tentar alargar horizontes. "O trabalho de promoção dos direitos humanos é sempre de empenho e não tem resultados imediatos", referiu.