José Vinha, in Jornal de Notícias
Numa zona como o Vale do Sousa, as multinacionais podem funcionar como alavanca. E é preciso maior flexibilidade legislativa para atrair investimentos. Na primeira conferência do ciclo JN/Cidades, a biblioteca de Paços de Ferreira recebeu um debate animado, ontem, segunda-feira.
O desafio da sessão, moderada pelo subdirector do JN, Paulo Ferreira, foi lançado: "Qual o Impacto das multinacionais no Vale do Sousa?" Alberto Santos, presidente da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, Luís Florindo, administrador da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e Hélder Moura, presidente da Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF), entre outras figuras, como Pedro Pinto, presidente da Câmara pacense, e Rui Coutinho, presidente do Conselho de Administração da PFR Invest aceitaram o repto.
"As multinacionais trazem uma cultura e um know-how que vêm favorecer todas as empresas", frisou Hélder Moura. A Swedwood, braço industrial da IKEA, cujas fábricas estão instaladas em Paços de Ferreira, serviu de exemplo. "Não é só o volume de negócios, mas o que a empresa traz indirectamente de bom para a economia local", frisou o dirigente dos empresários pacenses.
"Os investidores financeiros, quando nos olham, podem chegar à conclusão que somos pouco produtivos e pouco qualificados; mas quando uma empresa como a Swedwood chega e instala-se, passa a olhar-nos de outra maneira, vê um país competitivo", acrescentou Luís Florindo.
Para Alberto Santos, a "maior fragilidade" da região está num passado que puxou cedo os cidadãos para o mundo do trabalho e não permitiu uma formação adequada na escola. "A cultura de gestão também não favorecia a formação", disse, explicando que a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa tem em curso um estudo para radiografar a região de modo a perceber qual é a oferta adequada de emprego às necessidades das empresas.
Também a luta entre municípios pelos investimentos foi abordada. "No dia em que tentarmos forçar o investidor para determinada localização é o dia em que perderemos esse investimento", disse Luís Flórido. "Portugal já perdeu investidores por causa dessa concorrência", referiu.
Apesar de as multinacionais trazerem valor acrescentado, há desvantagens a ter em conta, desde logo, se o lucro sair do país ou houver deslocalização. "Provoca-se um efeito negativo, às vezes brutal", frisou Alberto Santos.
Todos os intervenientes concordaram, ainda, que é preciso mais flexibilização e descentralização ao nível legislativo que permita às autarquias atrair mais investimento. "Não se explora muito em Portugal as relações que podem vir dos investidores estrangeiros. Pela referência internacional da Swedwood conseguimos outros investidores porque a imagem que passaram foi de um lugar bom para investir" afirmou, por sua vez, Pedro Pinto, autarca de Paços de Ferreira.