in Jornal de Notícias
São mais qualificados do que os portugueses, mas começaram por ocupar profissões não qualificadas. Lentamente, a situação dos ucranianos melhora, mostra um livro lançado ontem com inquéritos de 2002 e 2004. E estes imigrantes estão a integrar-se bem.
A convicção de que a integração foi bem sucedida é do investigador José Carlos Marques, do Centro de Estudos Sociais do Instituto Politécnico de Leiria, citado ontem, sábado, pela agência Lusa a propósito do lançamento do volume "Imigração Ucraniana em Portugal e no Sul da Europa: a Emergência de uma ou várias comunidades?", de que é um dos autores.
Representando a segunda comunidade imigrante em Portugal, segundo o relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de 2009, com 52.293 cidadãos (12% do total de estrangeiros), os ucranianos entraram em massa especialmente entre 2000 e 2002, assinala o estudo, atingindo logo neste segundo ano um total de 62.041 pessoas.
Referindo entrevistas a fontes privilegiadas na Ucrânia, o estudo, publicado pelo Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, diz que o número real seria duas a três vezes superior. Ainda ontem, o dirigente da Associação de Ucranianos em Portugal Mykhaylo Nakonechnyy, citado pela Lusa, avançava 200 mil actualmente.
Em 90% dos casos, vieram para Portugal por razões económicas, segundo o estudo, que usa inquéritos a populações de Leste em 2002 e 2004, devido aos baixos salários. Para 55% dos 735 inquiridos (89,4% ucranianos) na primeira pesquisa, os rendimentos na origem eram inferiores a 50 euros mensais e em 83% a 100 euros, quando o valor médio considerado suficiente para uma família de quatro pessoas naquele país era de 309.
E sujeitaram-se a duras condições, sendo então muito propaladas as histórias de licenciados em medicina e em engenharia nas obras e na limpeza. Ambos os inquéritos evidenciam uma enorme desconformidade entre o nível das habilitações literárias e qualificação profissional dos imigrantes ucranianos na origem e a sua inserção no mercado de trabalho português (ver infografia).
O inquérito de 2002 mostra que 40% imigrantes possuíam um curso superior e outros 20% mestrado, doutoramento ou outra pós-graduação. O de 2004, que abrangeu 538 ucranianos entrados até 31 de Novembro de 2001, indica que 42,6% tinham habilitação politécnica ou universitária e 12,5% eram mestres ou doutores.
Na Ucrânia, segundo o inquérito de 2004, 40,9% dos respondentes tinham ocupado profissões intelectuais e científicas, 1,9% foram quadros superiores ou dirigentes, 8% tiveram profissões de nível intermédio e 10,5% nos serviços.
Na entrada em Portugal, ocuparam-se maioritariamente na construção civil (44,1%), nos serviços (19,2%) e na indústria transformadora (12,8%). Por outro lado, 65,2% passaram a ser trabalhadores não qualificados e apenas 1,9% ocuparam profissões intelectuais e científicas e 2,2% de nível intermédio.
No momento do inquérito de 2004, o peso da construção diminuiu para 31,8%, tendo aumentado, entre outros, o dos serviços (24,3%). Os grupos profissionais também evoluíram: os trabalhadores não qualificados baixaram para 41% e os profissionais intelectuais e científicos subiram para 5,9%. As condições de trabalho, nem por isso.
A situação laboral continuava geralmente precária, dura e mal paga: 61,5% dos inquiridos em 2004 tinham contratos temporários; 27,3% a trabalhar mais de 45 horas por semana; e 60,9% a ganhar entre 360 e 600 euros mensais.