Por Ana Rita Faria, in Público on-line
Responsável na consultora PwC por uma equipa de 700 pessoas a nível mundial, que aconselham clientes empresariais em sustentabilidade e mudanças climáticas, Malcolm Preston considera que as oportunidades de negócio ambientalmente sustentáveis são enormes.
A crise adiou alguns projectos, mas, daqui para a frente, as empresas não podem continuar a fazer investimentos sem medir o impacto que têm no ambiente.
Como é que se consegue medir o impacto da degradação ambiental num negócio?
É possível avaliar isso se dividirmos o impacto em várias componentes. Se uma empresa emite dióxido de carbono para a atmosfera, é possível medir isso. Se usa água, pode-se quantificar os custos de usar essa água. Pode-se medir a maior parte das coisas, tanto em termos de custo como de benefício. Por exemplo, os Estados Unidos foram atingidos, há alguns anos, pelo desaparecimento de abelhas, ameaçando a produção nacional de mel e de outras culturas. O custo que esse fenómeno teve nos negócios pode ser medido.
Nos últimos estudos supervisionados por si, chegaram à conclusão que a degradação dos ecossistemas e a redução da biodiversidade pode gerar perdas entre os dois biliões e os 4,5 biliões de dólares por ano. Em que é que essas perdas se podem traduzir?
Depende muito do sector. Mas há, por exemplo, previsões deprimentes relativamente ao que a recente escalada dos preços dos alimentos vai provocar, em termos dos preços dos produtos e da sua disponibilidade. Temos uma população a crescer cada vez mais, a mover-se cada vez mais para a cidades. Temos a China e a Índia a crescer e a consumir cada vez mais comida. Há uma crescente necessidade de alimentos. Isso pode conduzir a uma crise, mas também pode criar enormes oportunidades para as empresas que forem capaz de as ver. Um exemplo simples é o de uma empresa especializada em fertilização dos solos, que forneça soluções avançadas para aumentar a produtividade de um campo agrícola. As oportunidades de negócio são enormes.
Mas isso basta para convencer as empresas que devem levar a sério a questão da sustentabilidade?
Não é o único motivo. A maioria dos trabalhadores das empresas tem a expectativa de que estas se comportem de forma responsável. Se as empresas querem atrair talento e manter os seus funcionários, têm de ser sustentáveis nos dias que correm. As comunidades também esperam isso e, no longo prazo, se o negócio não for sustentável, os accionistas começarão também a olhar cada vez mais para isso. Mas volto ao fundamental: há oportunidades de negócio na sustentabilidade. E as empresas que não agarrarem essas oportunidades correm o risco de ficar para trás.
No Reino Unido, temos o exemplo de duas marcas concorrentes de detergente para a roupa – a Persil e a Ariel. Esta última criou um produto muito mais pequeno, com o dobro da concentração. Como tinha menos custos de embalagem e de distribuição, foi vendido como um produto ambientalmente sustentável. Em apenas duas semanas, a Ariel conseguiu tirar três por cento de quota de mercado à concorrente. Esta reagiu e lançou um detergente que permitia lavar roupa em água fria, reduzindo a factura energética. A Persil não voltou a recuperar quota de mercado, mas conseguiu estancar a perda. O que teria acontecido se não tivesse lançado este produto?
Acha que a concorrência empresarial, no futuro, terá cada vez mais a ver com a sustentabilidade?
Sem dúvida. Mas não há qualquer evidência de que o consumidor irá pagar qualquer tipo de prémio por um produto sustentável, sobretudo no ambiente económico em que vivemos neste momento. Contudo, se tivermos um produto com o mesmo preço e for sustentável, será mais vendido. A realidade é que não podemos mudar os consumidores, temos de mudar as empresas. Se estas produzirem produtos sustentáveis, os hábitos de consumo irão mudar naturalmente.
A crise económica e financeira que o mundo viveu nos últimos anos prejudicou esta aposta feita pelas empresas na sustentabilidade?
Ter uma estratégia de sustentabilidade implica pensar nos próximos três anos, mas, no meio de uma crise, uma empresa não sabe se consegue sobreviver nos próximos meses. Houve, por isso, questões que se tornaram mais importantes no curto prazo, mas nunca tivemos empresas a dizerem-nos que nunca mais voltariam a apostar na sustentabilidade. Tivemos, sim, empresas a dizer que têm de adiar projectos, porque têm de ter dinheiro para os próximos meses. Mas há também empresas que, mesmo em tempos difíceis como aqueles que vivemos actualmente, olham para a sustentabilidade como uma forma de gerar mais eficácia e, consequentemente, de poupar dinheiro. Se a maioria dos impactos ambientais for reduzido – emissões de dióxido de carbono, consumo de água e produção de lixo, por exemplo – as empresas poupam dinheiro.
Há também muitos interesses económicos a constituir barreiras à sustentabilidade. Como é que as empresas que querem apostar nessa área podem ultrapassar isso?
É aí que é preciso uma intervenção ao nível das políticas públicas. É por isso que existe, por exemplo, um comércio internacional de emissões [pelo qual os países comprometidos com a redução de emissões de gases com efeito de estufa, no âmbito do Protocolo de Quioto, podem negociar o excedente das metas de emissões entre si]. Se queremos mudar o cenário, e ele não muda por si próprio, é preciso uma intervenção política. Esta pode assumir várias formas: regulação, impostos, incentivos fiscais. A intervenção política pode mudar comportamentos, quando é necessária. Mas também é preciso que seja a intervenção certa. Esse é o grande desafio.
Actualmente as empresas não reconhecem os custos com a degradação ambiental nas suas contas. Acha que isso poderá vir a mudar?
A PwC trabalha com uma empresa, a Puma, que produz um relatório ambiental, onde reconhece esses custos. Os números são assustadores e sem significado, porque não podem ser comparados com os de outra empresa. Para mim, neste momento, o mais importante é que as empresas façam análises de cenários futuros.
Se uma empresa está a planear um investimento de longo prazo, é útil traçar cenários sobre qual será o preço do carbono, que energia haverá disponível e qual será a volatilidade dos preços. Isso ajuda a empresa a medir custos e a tomar decisões bem informadas. Actualmente, as empresas tomam decisões para os próximos 25 anos sem fazer a mínima ideia do que vai realmente acontecer. Veja-se, por exemplo, a indústria de cruzeiros. É muito pouco provável que consiga continuar a escapar a uma regulação ambiental nos próximos anos. Isso vai aumentar os custos operacionais das empresas, mas, actualmente, elas não estão a ter isso em conta quando compram mais um navio.