in RTP
Um dos documentos preparatórios do relatório da ONU sobre o Desenvolvimento Humano declara uma "profunda preocupação" com a situação da sociedade alemã: crianças atingidas pela pobreza, imigrantes discriminados, direitos de educação e emprego drasticamente amputados. O Governo de Angela Merkel desvaloriza o diagnóstico, rotulando-o de "provisório".
Segundo o documento de dez páginas, um em cada quatro estudantes secundários alemães vai todos os dias para a escola sem ter tomado o pequeno-almoço. Daí que a ONU exorte o Governo federal alemão a dar os passos necessários para que "as crianças, especialmente de famílias pobres, tenham as refeições devidas"
Outras recomendações do documento, hoje divulgado pelo diário Der Tagesspiegel, dizem respeito à necessidade de um programa abrangente de combate à pobreza, facilitação do acesso ao sistema de saúde e combate à discriminação dos imigrantes no acesso à educação e ao emprego. A crítica é particularmente dura no tocante ao acolhimento que se dispensa aos refugiados: este teria, segundo o documento, de "nivelar-se com as normas internacionais"
Esperanças de que as recomendações sejam atendidas parecem, contudo, ser poucas. A comissão da ONU para Direitos Económicos, Sociais e Culturais, que assina o documento, declara-se "profundamente preocupada" com a indiferença das autoridades alemãs perante recomendações anteriores no mesmo sentido.
O Governo de Angela Merkel desvalorizou o documento, a pretexto da sua provisoriedade. Trata-se, com efeito, de um estudo preparatório do Relatório da ONU sobre o Desenvolvimento Humano, que apenas será publicado na íntegra em novembro.
Merkel, o seu partido e o seu Governo não são, em todo o caso, os únicos alvos da crítica. Também anteriores governos, nomeadamente o social-democrata, chefiado por Gerhard Schröder, se tinham notabilizado por um conjunto de políticas que degradaram significativamente a paisagem social do país. A mais conhecida dessas políticas foi o pacote conhecido como "Hartz IV", que limitou o acesso a prestações da segurança social. Aos beneficiários dessas prestações do pacote "Hartz IV" não se garante, segundo o documento, "um padrão de vida razoável".
Também a situação das regiões da antiga RDA e a situação dos idosos merecem especiais referências no documento. As regiões do Leste continuam, vinte anos depois da reunificação alemã, a sofrer uma taxa de desemprego dupla da taxa ocidental - isto apesar de as reformas do mercado de trabalho terem permitido, afirma-se, reduzir o desemprego. Quanto aos idosos residentes em lares de terceira idade, afirma o documento, muitas vezes "vivem em condições indignas de um ser humano".