Por Ana Rita Faria, in Público on-line
Com a recuperação da economia mundial a dar sinais de enfraquecimento, os Governos devem, mais do que nunca, tomar medidas para combater o desemprego jovem e de longa duração, alerta a OCDE.
Os últimos dados da instituição mostram que, no universo de 34 países que a compõe, o número de desempregados recuou apenas para 44,5 milhões, o que significa que há ainda mais 13,4 milhões de pessoas sem emprego do que antes da crise de 2008.
No relatório Employment Outlook (“Perspectivas sobre o Emprego”), hoje divulgado, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) reconhece que “há sinais claros de que a recuperação económica está a abrandar e isso não são boas notícias para o emprego no curto prazo e para as perspectivas de desemprego”.
A instituição apela, por isso, a que as medidas de combate ao desemprego estejam no topo da agenda política dos Governos, sobretudo no domínio do desemprego de longa duração e do desemprego entre os jovens. “De todas as facetas da crise financeira e económica, o desemprego elevado é a manifestação mais visível do desafio de restaurar um crescimento sustentável, é a face humana da crise”, afirmou hoje o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, na conferência de imprensa de apresentação do relatório, em Paris.
“Os Governos não podem ficar parados. Os desafios de reduzir o desemprego elevado e duradouro, melhorar as oportunidades de trabalho e assegurar redes de protecção social adequadas devem estar no topo da agenda política”, defende Gurría.
A OCDE reconhece, contudo, que, numa altura em que os Governos mundiais se deparam com recursos públicos limitados, desde logo devido à necessidade de consolidação orçamental, é necessário reorientar o foco para “intervenções com uma lógica de custo-benefício”, como subsídios à contratação, e dirigir os apoios para os grupos da população mais vulneráveis.
Gurría deu como exemplo o novo plano do presidente americano Barack Obama para o emprego, que irá baixar a taxa social única para as empresas que expandam a sua força laboral.
Jovens sem emprego e educação em risco de exclusão
Para a instituição, a grande prioridade do poder político devem ser os jovens desempregados. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego das pessoas entre os 15 e os 24 anos foi de 17,4% na área da OCDE, o que compara com apenas 7% na faixa dos 25 anos para cima.
Dentro do grupo dos jovens, a instituição salienta que é preciso dar especial atenção àqueles que não estão nem empregados nem a receber educação ou formação (o chamado grupo NEET).
No final de 2010, este grupo representava 12,6% do total dos jovens entre os 15 e os 24 anos, nos 30 países da OCDE que tinham dados disponíveis. Em 2008, a percentagem era de 10,6%. Ou seja, dos 22,3 milhões de jovens, 14,6 milhões estão inactivos ou não estudam e 7,7 milhões estão no desemprego. Uma realidade que, alerta a organização, coloca este grupo “sob um risco elevado de marginalização e exclusão do mercado laboral, tanto maior quanto mais tempo permaneceram longe do mundo do trabalho”.
A OCDE pede também a promoção um crescimento económico que fomente o emprego, dizendo que isso é fundamental para resolver o problema do desemprego de longa duração.
Nos EUA, a percentagem de pessoas sem trabalho há mais de um ano triplicou para um nível recorde de 30% e, em Espanha, já ultrapassa os 40%. Das maiores economias europeias, destaca a OCDE, só a Alemanha viu o desemprego de longa duração diminuir.