3.9.11

Soares teme que classe média não suporte tantos aumentos de impostos

in Jornal de Notícias

O ex-Presidente da República Mário Soares considerou que se está a caminhar para o limite do que a classe média portuguesa pode aguentar em termos de impostos, admitindo que "não esperava tanto".

"Não estou surpreendido, mas não esperava tanto", afirmou Mário Soares, em declarações aos jornalistas à chegada de um jantar na Universidade de Verão do PSD, que decorre em Castelo de Vide até domingo, quando questionado sobre o mais recente aumento de impostos anunciado pelo Governo.

Reconhecendo que vê estas novas medidas "com preocupação", o histórico socialista admitiu ainda que se está a caminhar para o limite do que a classe média pode suportar em termos de impostos.

"Acho que sim, estamos a caminhar para lá ", sustentou, recusando, contudo, apontar uma solução alternativa, alegando que não é ministro.

Questionado sobre a possibilidade de ser introduzido um limite ao défice na Constituição portuguesa, Mário Soares recomendou alguma prudência.

"Como sabe mexer na Constituição é algo que implica dois terços, portanto, aí tem que haver um bocado de cuidado", declarou.

Contra a "subserviência" à 'troika'

O ex-presidente da República Mário Soares considerou também que Portugal tem condições para crescer sem vender o seu património "por tuta e meia" e sair da crise sem ser subserviente à 'troika', que "são os tipos dos mercados".

Ao intervir durante o jantar-conferência na Universidade de Verão do PSD, Soares disse que "Portugal tem condições humanas e naturais para crescer e vai consegui-lo, sem alienar - como alguns querem -- o seu património, vendendo-o por 'tuta e meia', até a empresas nacionalizadas no estrangeiro".

Na sua intervenção, que se centrou na globalização e no diálogo entre gerações, o histórico socialista não passou ao lado do tema da crise e do endividamento do País, frisando que "há muita coisa para além da dívida".

Contudo, Soares não deixou de apontar alguns caminhos, defendendo que Portugal não tem de estar "sempre de chapéu na mão e ser subserviente em relação à 'troika'", que "afinal são os tipos dos mercados".

Como disse: "Não temos de estar subservientes a essa 'troika'", considerando que Portugal conseguirá sair da crise com a ajuda de uma nova União Europeia solidária e mais igualitária, "sem que seja necessário chegar aos extremismos que preconiza essa 'troika', que não é uma Bíblia".

Por outro lado, preconizou ainda o antigo presidente da República, é preciso "dominar os mercados e meter na ordem os paraísos fiscais e as agências de 'rating' no plano internacional".

Caso contrário, o euro e a União Europeia serão "destruídos", o que seria "uma calamidade", não só para todos os Estados membros, como para o mundo, que ficaria, "de todos os pontos de vista, sem controlo", continuou Mário Soares.

"Não creio que os dirigentes europeus sejam tão irresponsáveis - têm sido um bocado - que aceitem, sem reagir, que a União Europeia, o projecto político mais original desde sempre, se auto-destrua", declarou, confessando, contudo, não estar seguro disso.

Logo no início da sua intervenção, referiu-se ao facto de estar num jantar da Universidade de Verão do PSD, considerando ter sido "uma prova de inteligência" dos organizadores terem convidado alguém que é "adversário político".

Contudo, ressalvou, em democracia não há "inimigos", mas sim adversários, que até podem ser amigos pessoais, como é o caso da relação que tem com o eurodeputado Carlos Coelho ou com o fundador do PSD, Francisco Pinto Balsemão.