Por Luís Reis Ribeiro, in Dinheiro Vivo
O “desajustamento crónico” entre as habilitações dos trabalhadores e a natureza dos cargos que ocupam tem um número: de acordo com um estudo da OCDE, 33% dos empregados, em Portugal, admite ter qualificações a mais ou desajustadas face às exigências laborais diárias. Este problema tem sido amplificado pela reestruturação profunda de vários sectores na econmia e pelo desemprego de longa duração.
Os observadores do mercado de trabalho português costumam dar o exemplo do excesso de licenciados em áreas como línguas ou psicologia, algo que é pouco compatível com as necessidades de muitas empresas que pretendem ser mais competitivas a nível global em sectores intensos em investigação e desenvolvimento. Em contrapartida, é apontada a falta de engenheiros e especialistas em ciências exactas.
Outra razão prende-se com a própria ‘pobreza’ do tecido empresarial, em geral. Em Portugal, a maioria dos negócios continua a ser pouco sofisticado e de baixo valor acrescentado.
No conjunto dos 33 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o grupo das economias mais desenvolvidas, Portugal é o oitavo no que respeita a este fenómeno da sobrequalificação. Holanda e México lideram, como mais de 40% do total de empregados nessa situação; Eslováquia e Reino Unidos são os menos afectados, com menos de 10%.
Segundo a OCDE, o fenómeno da sobrequalificação pode derivar ainda das ondas de encerramentos de empresas e reestruturações sectoriais e de despedimentos em massa (como aconteceu nos últimos anos). Estes desempregados, apesar das suas qualificações, deixam de estar ajustados à nova realidade. A OCDE acrescenta ainda que, quanto mais tempo uma pessoa fica no desemprego, “maior o risco de sobrequalificação, o que sugere que as competências podem tornar-se obsoletas durante esse período de desemprego”.
E, de facto, mostra o estudo, só os desempregados eslovacos demoram mais tempo a arranjar trabalho no universo dos 33 países analisados. Em 2010, Portugal tinha a segunda taxa de desemprego de longa duração mais elevada da OCDE, com 52,3% das pessoas sem trabalho há mais de 12 meses. E apenas 29,5% arranja trabalho em menos de seis meses.
Coreia do Sul e México são as economias ricas com menores incidência de desemprego de longa duração, com 0,3% e 2,4% do total de desempregados, respectivamente.
A economia mudou muito, mas as qualificações dos portugueses não acompanharam. É um problema de produtividade, dizem os analistas
