in Jornal de Notícias
Os casos de empregadas domésticas despedidas, com horários reduzidos ou salários cortados aumentaram 10% nos últimos seis meses devido aos cortes nos orçamentos familiares, revela o sindicado que representa o sector.
A crise das famílias está a atingir as empregadas domésticas. Segundo o sindicado que as representa, os casos de funcionárias despedidas, com horários reduzidos ou salários cortados aumentaram 10% nos últimos seis meses.
Até ao início do ano, eram raros os dias em que batia à porta do sindicado uma empregada doméstica a pedir ajuda.
"Apareciam muito esporadicamente, mas desde Janeiro houve um aumento exponencial de trabalhadoras a recorrer aos nossos serviços", contou à Lusa Vivalda Silva, do Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Actividades Diversas (STSPVLDAD).
Nos últimos seis meses, o sindicado registou um "aumento de 10% de situações de rescisão de contrato ou redução do horário".
"Aquilo que é dito às domésticas é que as famílias já não tem possibilidades de lhes pagar porque a vida está má e por isso têm de rescindir ou reduzir-lhes o horário", relatou a sindicalista, referindo casos de empregadas que nos últimos meses viram o seu rendimento mensal baixar dos 600 para os 400 euros.
Habitualmente, as famílias começam por reduzir o horário e, só quando a situação se agrava, é que avançam para o despedimento. Mas existem também relatos de quem se vê forçado a aceitar menos dinheiro pelas mesmas horas de trabalho.
Nem o sindicado nem a Segurança Social conseguem dizer quantas são as empregadas domésticas existentes no país, nem qual o número real de despedimentos ou reduções de horário de trabalho.
O sindicato explica que este é um sector muito difícil de monitorizar: "Nós não conseguimos contabilizar porque só passamos a ter uma relação com elas quando se dirigirem a nós. Não vamos bater à porta de uma casa particular a perguntar se têm empregada doméstica".
A única certeza para a sindicalista é que o aumento de d10% registado até agora representa apenas "uma gota muito pequenina no grande oceano" de casos.
Não são apenas as famílias de classe média que estão a cortar neste serviço. Susana Vila, proprietária de uma empresa que fornece empregadas na zona do Estoril, também já começou a sentir uma redução de facturação.
"Este ano começámos a sentir alguma redução, apesar de as nossas clientes serem pessoas que podem pagar uma empregada e uma agência", explicou Susana Vila, sublinhando que para muitos "uma empregada é quase um bem essencial".
O futuro das domésticas deverá agravar-se, segundo as previsões do sindicato que lembrou que "a situação no país vai piorar e vai haver muito mais gente a prescindir os seus serviços".
Em Portugal, a maioria das domésticas são de origem africana e brasileira, mas também começa a haver um aumento de mais portuguesas no ramo, que entretanto foram despedidas das fábricas que faliram, explicou Vivalda Silva. Em comum, as domésticas têm o facto de habitualmente serem "pessoas com pouco instrução".
Sabem quais são as suas obrigações, mas muitas desconhecem os seus direitos laborais: "A doméstica acha que não tem os mesmos direitos que outro trabalhador qualquer e quem as contrata, em muitos casos, também pensa que não é preciso dar férias nem pagar subsídios. Há quem ache que a qualquer altura pode mandá-las embora", criticou a sindicalista, lembrando que todos os trabalhadores têm direito a ser indemnizados pelo fim do contrato de trabalho.