in Dinheiro Vivo
“Longe de estar terminada, a crise do euro piorou recentemente”. Este é o diagnóstico do investidor George Soros sobre a actual situação financeira no bloco monetário. O norte-americano aplaude nas páginas do Financial Times a operação de injecção de liquidez por parte do Banco Central Europeu (BCE) para superar o fechar da torneira do crédito na Europa.
Apesar da actual situação, Soros está um pouco optimista em relação ao comportamento dos mercados. “Os mercados financeiros tem sofrido uma deterioração; mas isto não deverá durar muito mais tempo”.
"O programa LTRO permitiu que os bancos espanhóis e italianos adquirissem dívida dos seus próprios países de uma forma muito rentável e com um baixo risco", explica o investidor, acrescentando que "o tratamento preferencial recebido pelo BCE sobre a sua dívida grega vai desencorajar os outros investidores de guardarem dívida soberana.
"Se isto continuar por mais uns anos, uma separação da zona euro vai tornar-se possível sem uma bancarrota, mas iria deixar os bancos centrais dos países credores a reclamar que é difícil actuar contra os bancos centrais dos países devedores".
“O Bundesbank viu o perigo. Está agora a lutar contra a expansão indefinida do fornecimento de dinheiro, e começou a tomar medidas para limitar as perdas que iria ter numa dissolução da zona euro”. Soros considera que assim que o Bundesbank começar a precaver-se para uma dissolução, todos vão fazer o mesmo. “Os mercados estão a começar a reflectir sobre isto”.
Na Alemanha, o banco central também está a apertar o crédito. “Esta seria a política correcta se a Alemanha tivesse a sua própria divisa, mas os membros da zona euro com elevado endividamento precisam duma forte procura por parte da Alemanha para evitar a recessão”. Sem consumo alemão, o pacto fiscal acordado em Dezembro “não poderá funcionar”.
Os países altamente endividados vão falhar no cumprimento das medidas necessárias, e mesmo que cumpram podem falhar as metas devido à queda da procura. “De qualquer forma, os rácios da dívida vão aumentar, e a diferença na competitividade com a Alemanha vai aumentar”.
A Europa “enfrenta um longo período de estagnação económica ou pior”, explica o investidor, relembrando que os países da América Latina “sofreram uma década perdida desde 1982 e o Japão tem estado a estagnar desde um quarto de século; e ambos sobreviveram”. O problema da União Europeia é que “não é um país e é pouco provável que sobreviva. A armadilha deflacionária da dívida ameaça destruir uma união política ainda incompleta”.
Como resolver situação?
O presidente da Soros Fund Managment considera que a única forma de escapar a esta armadilha é “reconhecer que as actuais políticas são contra-produtivas e mudar o seu rumo”.
Em primeiro, as regras que regem a zona euro “falharam e precisam de uma revisão radical. Defender um status quo que não funciona só iria tornar as coisas piores”. Em segundo lugar, a actual situação “é altamente anómala, e medidas excepcionais são necessárias para restaurar a normalidade”. Finalmente, as novas regras devem permitir a “instabilidade inerente dos mercados financeiros”.
O magnata considera que parte do trabalho está feito: “O orçamento fiscal deve ser o ponto de partida, apesar de alguns defeitos óbvios precisarem de ser modificados”. Soros explica que o pacto deve contabilizar as dívidas comerciais assim como financeiras e que os orçamentos devem distinguir entre investimentos que recompensam e despesa corrente.
Para evitar as fraudes, o que é qualificado como investimento “deve ser sujeito a aprovação por uma autoridade europeia”. Depois de aprovado, o Banco de Investimento Europeu, com mais poder, poderia co-financiar os investimentos.
Novas medidas são necessárias para regressar à normalidade, explica o norte-americano. Actualmente, a União Europeia obriga os estados-membros a reduzir a sua dívida pública anualmente em um-vigésimo da quantia pela qual excederam os 60% do Produto Interno Bruto (PIB). “Proponho que os estados-membros recompensem o bom comportamento ao eliminar esta obrigação”.
Novas medidas são necessárias para regressar à normalidade, explica o norte-americano. Actualmente, a União Europeia obriga os estados-membros a reduzir a sua dívida pública anualmente em um-vigésimo da quantia pela qual excedeream os 60% do Produto Interno Bruto (PIB). “Proponho que os estados-membros recompensem o bom comportamento ao eliminar esta obrigação”.
Actualmente os bancos centrais transferiram o lucro de impressão de divisa para o BCE, avaliado em cerca de 2 biliões e 3 biliões de euros, por Willem Buiter do Citibank e Huw Pill da Goldman Sachs, respectivamente. George Soros propõe que seja criado um veículo que pudesse usar este dinheiro para financiar o custo de adquirir dívida através do BCE sem violar o Tratado de Lisboa.
Caso um país viole o pacto orçamental, seria obrigado a pagar juros em toda ou em parte da dívida detida pelo veículo. “Isto iria certamente impor uma dura disciplina orçamental”.
Ao recompensar o bom comportamento, o pacto orçamental não iria constituir uma armadilha deflacionária de dívida. “A perspectiva iria melhorar radicalmente. Para diminuir a diferença de competitividade, todos os membros deveriam ser capazes de refinanciar a dúvida existente com os mesmos juros. Mas isto iria requerer uma maior integração orçamental. Teria de ser faseada gradualmente”.
Para concluir, George Soros considera que o Bundesbank “nunca iria aceitar estas propostas”, mas as autoridades europeias deveriam levá-las a sério. O futuro da Europa é um assunto político: não compete ao Bundesbank decidi-lo”.