Por Natália Faria, in Público on-line
Cada vez mais ex-combatentes com stress de guerra estão a viver nas ruas. A denúncia parte da Associação de Apoio a Ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra (Apoiar), segundo a qual os cortes nas pensões e nos medicamentos estão a fragilizar sobretudo os ex-militares aos quais o Estado recusa o estatuto de portadores de stress pós-traumático.
Para que um ex-combatente possa ser considerado deficiente das Forças Armadas e beneficiar do respectivo apoio, a lei prevê que tenha uma incapacidade superior a 30%. Um dos problemas, adiantou ao PÚBLICO o presidente da Apoiar, João Sobral, é que 98% dos processos que chegam para análise ao Hospital Militar acabam recusados.
“Os antigos combatentes chegam lá com processos elaborados por clínicos gerais, psiquiatras, psicólogos que atestam incapacidades superiores a 30% e, em 98% dos casos, as juntas médicas no Hospital Militar recusam reconhecer que aquele homem é portador da doença”, acusa João Sobral.
A este problema acresce o atraso na avaliação dos processos. O presidente da Apoiar diz que há 1.600 processos para análise “completamente parados”. “Estamos a falar de pessoas que andam há 12, 13 anos a tentar ser reconhecidas como portadoras de stress pós-traumático e que esbarram ali.”
Com o desemprego a atingir proporções inéditas na história recente do país, Sobral lembra que, além dos cortes nos medicamentos e nas pensões, têm aumentado os ex-combatentes que acabam na rua, nomeadamente por não terem como custear a medicação de que precisam para se manterem “funcionais”.
“São pessoas conflituosas, muitos patrões não os querem, têm conflitos familiares graves. Antigamente muitos filhos ainda podiam ajudar mas, com a crise, são cada vez mais os que nos chegam da rua sem dinheiro e sem medicação.”