Catarina Fernandes Martins, in Público on-line
Sete famílias de Leiria vão ter um almoço de domingo diferente quando acolherem sete famílias de imigrantes numa refeição convívio que visa promover a integração social e o encontro de culturas, organizada pela associação AMIgrante.
Às 13h (hora portuguesa), quando a iniciativa “Família do Lado” estiver a decorrer em simultâneo na República Checa, Bélgica, Hungria, Itália, Malta, Eslováquia e Espanha, Tânia Silva, 33 anos, técnica de serviço social e professora do ensino superior, vai acolher uma família multicultural – o pai é guineense, a mãe líbia e a filha, de nove anos, nasceu no Egipto.
Tânia Silva vive nos arredores de Leiria, “num local isolado, onde a diversidade cultural não existe” e quis mostrar aos filhos de oito e 11 anos que existem outras culturas. Filha de emigrantes, Tânia Silva reconhece a importância de iniciativas como esta: “Ponho-me nos pés dos meus pais e penso como é importante ser bem acolhido”.
A ponte entre a família que acolhe e a família acolhida foi feita por um mediador que, em cada um dos sete casos, facilitou o diálogo, ajudando a ultrapassar as barreiras linguísticas ou fornecendo informações sobre os hábitos culturais e alimentares, explicou ao PÚBLICO por telefone Alice Cardoso, vice-presidente da AMIgrante.
Tânia Silva já conheceu o pai guineense que vai acolher e ficou a saber que a família não come carne de porco e não bebe álcool. A técnica de serviço social pensou em fazer petiscos de bacalhau, mas vai ter de alterar a estratégia porque a mãe da família acolhida não gosta daquele que é o peixe preferido pelos portugueses.
“As culturas diferentes têm coisas muito diferentes, mas também têm coisas em comum: toda a gente gosta de ter amigos e de conhecer pessoas novas”, afirma Tânia Silva. Por isso mesmo, o convívio não acaba com a refeição. O que farão depois do almoço vai depender do estado do tempo, mas Tânia Silva queria mostrar a esta família a praia de Vieira de Leiria. Se chover, ficam em casa, onde juntos vão montar a árvore de natal.
Como o pai foi emigrante na Líbia, Tânia Silva tem muitas fotografias antigas daquele país que irá mostrar a esta família, na esperança de que este seja um bom ponto de contacto.
Uma chinesa em casa de João
À excepção de um agregado familiar de Tomar, todas as famílias que participam no projecto “Família do Lado” residem no concelho de Leiria. Os imigrantes são oriundos da Ucrânia, China, Guiné-Bissau, Angola e Uzbequistão.
Gabriela tem 20 anos e o seu nome original é Ao Leong Sao Hin. Há um ano chegou a Portugal, vinda de Macau, para estudar Tradução e Interpretação nas variantes de Português/Chinês e Chinês/Português no politécnico de Leiria.
Gabriela está entusiasmada. Diz que é uma “curiosa da casa portuguesa” e que esta é uma boa iniciativa que lhe vai permitir conhecer pessoas novas. Longe da sua família, Gabriela está ansiosa por passar umas horas com uma família portuguesa.
Alice Cardoso pensa que para as famílias imigrantes o mais importante é sentirem-se acolhidas. “Quando tudo nos é estranho – os cheiros, a comida, até o tempo – é bom ter um acolhimento. Eu também tenho filhos no estrangeiro e sei como é duro não ter a família connosco”, diz a vice-presidente da associação.
Por enquanto, Gabriela só sabe que vai almoçar “a casa do João” e que vai levar vinho e asas de frango. Vai ser estranho? "Não! Se estivesse no meu país seria eu a anfitriã”.
A AMIgrante é uma associação com sede em Leiria, que fornece ajuda social e jurídica, cursos de língua portuguesa, apoio a iniciativas culturais, bem como apoio moral aos imigrantes. Esta iniciativa conta com o apoio do Fundo Europeu para a Integração de Nacionais de Países Terceiros e é desenvolvida em parceria com a Rede de Centros Locais de Apoio à Integração de Imigrantes.