por Daniel Rosário, in RR
Na hora da despedida, presidente do Eurogrupo revela que propôs várias vezes o reajustamento das “condições financeiras e orçamentais” do programa português.
Quase de saída do cargo, o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, vem agora defender que países considerados cumpridores, como Portugal, deviam ver os esforços recompensados com um alívio do programa de ajustamento.
Respondendo a uma pergunta da eurodeputada socialista Elisa Ferreira, na Comissão Parlamentar de Assuntos Económicos da União Europeia, Jean-Claude Junker revelou que gostava que tivesse sido “criado um sistema, e não o digo de forma paternalista, de recompensa para os países que fazem todos os esforços que lhes exigimos”.
“Um país que faz as coisas bem, hoje não recebe recompensa”, lamentou.
Em relação ao caso português, o luxemburguês disse ter proposto várias vezes, nas reuniões do Eurogrupo, um ajustamento das condições: “Gostava, e propus várias vezes que, nomeadamente no caso de Portugal, reajustássemos o mecanismo de ajustamento e as condições financeiras e orçamentais que o acompanham.”
Na hora da despedida, Jean-Claude Jucker decidiu contar um pouco o que lhe vai na alma em relação a algumas opções políticas europeias e os seus efeitos em países como Portugal, revelando algumas dúvidas.
“Estou cheio de interrogações acerca do ritmo de ajustamento aplicado a alguns Estados-membros da Zona Euro. Nós, alguns Governos, subestimamos de uma maneira geral a enorme tragédia do desemprego, que acaba por nos esmagar”, admitiu.
São palavras que destoam do que tem sido o discurso europeu oficial e que talvez se justifiquem pelo facto de Juncker abandonar a presidência do Eurogrupo no final do mês. Falta saber que consequências práticas poderão ter as suas declarações para os países directamente interessados.

