15.1.13

Requerente de asilo diz ter sido vítima de agressão policial em Portugal

Joana Gorjão Henriques, in Público online
Um requerente de asilo político em Portugal diz ter sido vítima de agressão física e verbal por três polícias nas instalações geridas pelo Conselho Português para os Refugiados (CPR), na Bobadela, e depois na esquadra de São João da Talha, em Loures, na madrugada de 29 de Dezembro. Apresentou uma queixa-crime contra os agentes.

Obai Radwan terá sido o primeiro requerente de asilo político sob alçada do CPR a apresentar uma queixa contra a polícia – o CPR existe desde 1991 e a coordenadora do gabinete jurídico, Mónica Farinha, que trabalha nesta instituição desde 1994, “não” tem “memória de uma situação idêntica”. O caso está a ser averiguado pelo CPR, disse a jurista, que não quis adiantar mais informações enquanto não se apurarem os factos.

Nascido nos Emirados Árabes Unidos em 1982, filho de palestinianos, Obai Radwan chegou a Portugal no início de Dezembro e aguarda decisão do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras sobre o seu pedido de asilo - o processo e os motivos do pedido são confidenciais.

A queixa contra a polícia foi feita por Obai Radwan na tarde de dia 29 na esquadra do Rossio, em Lisboa. Contactado pelo PÚBLICO, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, através do gabinete de relações públicas, não quis adiantar informações, pois “o processo de averiguações quanto à queixa apresentada segue os trâmites normais e tendo em conta o carácter confidencial do mesmo não é possível disponibilizar qualquer informação”. O núcleo de disciplina da PSP irá interrogar os agentes e Obai Radwan, acrescentou Pedro Cunha, do gabinete de relações públicas.

A queixa foi remetida para o Ministério Público (MP), segundo Pedro Cunha, mas até à tarde desta sexta-feira não estava registada no sistema de nenhum dos serviços do MP que a poderiam ter recebido - Lisboa e Loures. É, por isso, “de equacionar como provável que a transmissão da queixa pela entidade policial ao Ministério Público ainda não esteja concluída”, disse a assessora de comunicação da Procuradoria-Geral da República, Ana Lima.

Na madrugada de 29 de Dezembro, Obai Radwan foi levado para a esquadra de São João da Talha, depois de o vigilante do Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR) na Bobadela, gerido pelo CPR, ter chamado a polícia, contou o próprio e confirmou a jurista do CPR. Obai Radwan acusa os polícias de, ainda no CAR e depois na esquadra, lhe terem batido em “diferentes partes do corpo” com um “bastão” e insultado o seu “nome, nacionalidade e religião”. Diz ter ficado na esquadra “mais ou menos três horas”, e que não lhe foi pedida identificação, além do seu primeiro nome. No relatório das urgências, com o carimbo do Centro Hospitalar de Lisboa Central, escreve-se que Obai Radwan foi “vítima de agressão, sobretudo no tronco e membros” e apresenta “equimoses nos antebraço direito e braço esquerdo, na região torácica anterior e posterior”.

Segundo relataram ao PÚBLICO a jurista do CPR e a responsável pelo gabinete de comunicação, Mónica Frechaut, a polícia foi chamada às instalações por “incumprimento do regulamento e indisciplina” pela parte de Obai Radwan. O regulamento define que a recolha aos quartos é às 23h e “eram 24h e o senhor Obai ainda não tinha recolhido”, disse Mónica Frechaut. “A partir de certa hora, se as pessoas estão nas zonas públicas o alarme dispara. O vigilante foi forçado a chamar a polícia”.

Obai Radwan diz que nessa noite foi, de facto, para uma zona comum do centro, de modo a accionar os alarmes mas como forma de protesto contra o vigilante que o impediu de aceder à Internet para falar com a família. Obai Radwan tem usado as instalações do CAR mas foi transferido para um quarto fora, uma prática comum sempre que os requerentes o pedem. “Continuamos a prestar o apoio a Obai Radwan para que se sinta o melhor possível”, disse Mónica Farinha.

Obai Radwan fez ainda queixa à Amnistia Internacional e à Associação de Apoio à Vítima, que não comentam o caso por os seus serviços serem confidenciais.