Ana Cordeiro, in Público on-line
Relatório da Cáritas Europa parte de estatísticas da Comissão Europeia e alerta governantes para o risco de uma ou várias “gerações perdidas”.
Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha não têm apenas em comum estarem incluídos num programa de assistência económica e financeira para reduzir drasticamente o peso da dívida pública e reconquistar a confiança dos mercados nas suas economias. Todos, mais Itália, incluem-se no grupo de países sobre o qual a Cáritas Europa lança um alerta especial para os riscos das políticas de austeridade, impostas nesse programa, nas novas gerações.
O número de crianças próximas da linha da pobreza continuou todos os anos a aumentar pelo menos desde 2008, atingindo já quase de um terço nos países listados, conclui num relatório publicado nesta quinta-feira em Dublin, na Irlanda que preside actualmente a União Europeia. O documento, intitulado O Impacto da Crise Europeia – A resposta da Cáritas à Austeridade, será apresentado em Portugal a 6 de Março.
A Cáritas Europa parte das estatísticas da Comissão Europeia e constata que é nos quatro países devedores de empréstimos da União Europeia e do FMI e na Itália que os riscos de pobreza ou exclusão das crianças são maiores. São assim definidas se vivem em famílias com menos de 60% do rendimento mediano (no meio entre os dois extremos) ou cujos pais têm pouco trabalho ou nenhum emprego ou ainda se não têm satisfeitas as necessidades básicas como alimentos ricos em proteínas, vestuário e aquecimento.
Em Portugal, 28,6% das crianças estavam em situação de risco de pobreza ou de exclusão em 2011. Nesse ano, eram mais de 30% na Grécia e em Espanha, mais quatro pontos percentuais que em 2005. Itália e Irlanda não tinham dados actualizados em 2011 mas, em 2010, contavam 37,6% na Irlanda e 28,9% em Itália. Não existem estatísticas para 2012.
Mas, com as que dispõe, a Cáritas traça um quadro futuro sombrio em que as políticas de austeridade estão a criar uma geração de jovens sem ânimo ou perspectivas de futuro em Itália e nos países da zona euro onde vigora um programa de assistência económica e financeira, incluindo Portugal.
"Pode ser a receita não só para uma geração perdida na Europa mas para várias gerações perdidas", conclui a organização de solidariedade, que culpa o empobrecimento crescente das famílias, os cortes nos apoios sociais e nos subsídios de desemprego e os aumentos de IVA e outras taxas. Recomenda às instituições que impõem as medidas de austeridade e apela aos Governos destes cinco países que se interroguem sobre o que estas tendências significam para as crianças no futuro.
Contactada pelo PÚBLICO, a Cáritas Portuguesa remeteu os comentários sobre este relatório para a sua apresentação em Portugal no próximo mês. Para já, alerta em comunicado para o facto "de as medidas de austeridade, como solução principal para o combate à crise, estarem a provocar efeitos negativos junto da população arrastando muitas famílias para novas situações de pobreza". Os efeitos mais negativos da austeridade fazem-se sobretudo nas famílias mais carenciadas e, neste grupo, as crianças são as mais afectadas, sintetiza.

