Por Catarina Falcão, in iOnline
Como é que os Estados-membros podem combater a abstenção das mulheres nas próximas eleições europeias?
Acho que devemos ser realistas - 60% das mulheres não votaram nas últimas eleições europeias e por isso é crucial voltar a ganhar a confiança das mulheres. O mais importante é mostrar às mulheres que a sua voz pode ser ouvida. O problema é que elas não se sentem incluídas no discurso político e continuam a enfrentar profundas desigualdades como a diferença salarial, diferenças nas pensões, dificuldades no acesso ao crédito e ao mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, a crise e as medidas de austeridade pioraram as condições de vida das mulheres e, por isto, elas não confiam na construção europeia.
De que forma é que essas medidas afectam as mulheres?
As medidas tomadas, tanto a nível nacional como a nível europeu, não têm qualquer avaliação do impacto de género e por isso têm vindo sempre a negligenciar as mulheres. Precisamos de uma verdadeira política de género, a nível económico e social. As mulheres europeias estão fartas de promessas. A minha resposta à crise é mais igualdade de género.
O que é que o Partido Socialista Europeu está a pensar fazer para atrair mais mulheres às urnas?
Antes de querermos mais mulheres a votar, temos de melhorar as suas vidas e fortalecer os seus direitos. Este é o objectivo. Claro que temos de convencer as mulheres que somos o partido na linha da frente para defender os seus direitos. Por isso é que no congresso em Roma, no fim de semana passado, eu fui muito clara e disse a Martin Schulz, candidato a presidente da Comissão Europeia, que as mulheres socialistas exigem que, caso o partido ganhe as eleições, o presidente do Parlamento Europeu ou o líder do Partido Socialista Europeu no próximo parlamento seja uma mulher. As mulheres precisam de estar mais representadas. Para além disto, lançámos uma forte campanha sobre a desigualdade de salários e outras prioridades, como o combate à pobreza, desemprego, precariedade e trabalho a tempo parcial. Temo-nos batido também para assegurar que as mulheres têm acesso aos seus direitos reprodutivos e sexuais, conseguindo neste ponto um grande empenhamento por parte de Martin Schulz. Precisamos de ter uma campanha transparente sobre a Europa, mas todos os partidos têm de ter consciência que o destino da Europa depende do voto das mulheres.
Qual é a sua opinião sobre a campanha 50/50 que pede 50% dos lugares do Parlamento Europeu para mulheres?
Apoio esta campanha desde 2009, quando ela foi lançada pelo Lobby Europeu das Mulheres. Queremos uma verdadeira paridade na Europa, especialmente na vida política e nas instituições europeias, mas reconheço que é muito difícil, por exemplo, no que diz respeito aos partidos e a alguns países.
Pensa que haverá mais mulheres no Parlamento Europeu após as eleições de Maio?
É importante encorajar o máximo de candidatas possível. A Alemanha e Itália têm agora governos paritários e perceberam a importância de trazer uma nova perspectiva para a política. Acredito que vamos ter mais mulheres no próximo Parlamento Europeu, mas não dos novos Estados-membros, de onde eu venho. Em 2004 e 2009 tivemos muitas mulheres porque os homens pensaram que o Parlamento Europeu não era uma coisa importante, mas agora que já se aperceberam que este parlamento toma verdadeiras decisões, já não querem que as mulheres tenham tanto acesso a lugares elegíveis.