Margarida Peixoto, in Negócios on-line
As famílias mais jovens serão as mais afetadas, porque são as mais dependentes dos rendimentos do trabalho. As mais ricas também são, genericamente, as que mais perdem.
A pandemia de covid-19 vai tirar, no curto prazo, 8,2% ao rendimento do trabalho, em termos médios e mensais, das famílias em Portugal. Isto, mesmo considerando que são mobilizadas todas as medidas de apoio disponibilizadas pelo Estado para reagir à crise. Os cálculos são do Banco de Portugal e foram divulgados esta quarta-feira, 6 de maio, no âmbito do Boletim Económico.
Antes da pandemia, o rendimento médio mensal líquido, fruto do trabalho, das famílias em Portugal era de 871 euros. Com o impacto da covid-19 – nomeadamente, a necessidade de muitas empresas colocarem trabalhadores em layoff por não terem faturação para fazer face aos custos fixos – o rendimento médio mensal das famílias cai para 800 euros.
Olhando para o rendimento disponível, a queda estimada é menor, na ordem dos 5,3% – passa de um rendimento mensal líquido disponível de 1.566 euros, para 1.482 euros mensais.
Estes impactos são estimados para o curto prazo, não incorporando outros efeitos de equilíbrio geral da economia, nomeadamente o "contágio entre a redução de atividade nos diversos setores, a ligação entre as quedas de rendimento das famílias e a procura dirigida às empresas", a interação com a banca ou mesmo os custos orçamentais das medidas de apoio em causa. Estes efeitos podem ser "particularmente significativos", assumem os economistas do banco central.
Os cálculos do Banco de Portugal também não têm em conta outro tipo de rendimentos, como por exemplo de rendas, negócios ou ativos financeiros, porque os dados indicam que têm um peso negligenciável (cerca de 4%) no conjunto dos rendimentos das famílias, em termos médios.
Famílias mais jovens e mais ricas perdem mais
O estudo do Banco de Portugal permite ainda concluir que são as famílias mais jovens, e as mais ricas, que perdem mais rendimento. Isto acontece porque estas famílias dependem mais dos rendimentos do trabalho, que são particularmente afetados na pandemia. No caso das famílias mais ricas, a maior perda também decorre do facto de medidas como o layoff terem um limite máximo para o valor do apoio.
Há, contudo, uma exceção: cerca de um terço das famílias muito pobres, que ficam até ao percentil 20 de rendimentos. Neste patamar, o peso das famílias que dependem dos rendimentos do trabalho é comparativamente baixo (34,1% contra, por exemplo, 75,9% no percentil de rendimento médio).
Mas estas famílias estão particularmente vulneráveis: perdem 8,6% do seu rendimento líquido do trabalho, acima da média. Só as famílias mais ricas (acima do percentil 90) perdem mais (11,1%) do que este grupo. Uma possível explicação é que estas famílias têm empregos em setores muito afetados pela pandemia, como o da restauração e alojamento. Aliás, o estudo do Banco de Portugal permite concluir que a pandemia atira cerca de um terço das empresas deste setor para uma situação de défice de liquidez, em que não tem verbas suficientes para pagar os seus custos fixos.
Outra conclusão do estudo é que há, ainda assim, cerca de metade das famílias em Portugal que não veem os seus rendimentos afetados como consequência da pandemia. Isto acontece por dois fatores: ou porque não têm rendimentos do trabalho, ou porque trabalham em setores que não são significativamente atingidos.