O Expresso pediu a dois especialistas da Proteção Civil que estiveram recentemente nos sismos da Turquia que nos explicassem como se processam as operações de resgate num cenário assim, quais as horas críticas para encontrar pessoas com vida e que tipo de dificuldades têm de ser contornadas para salvar pessoas
António Gandra assume que “o tempo é o pior inimigo”. O médico, que liderou a equipa de saúde que esteve destacada no último sismo da Turquia, integrada no socorro internacional que Portugal enviou, acrescenta que “as primeiras horas são fundamentais e é preciso triar quem tem mobilidade, primeiro enquanto decorrem as operações de busca e salvamento”.
O adjunto Pedro Sousa, especialista em busca e salvamento - e que também esteve na Turquia em operações de resgate -, aponta a construção marroquina como “complicada”. “O sismo atingiu a parte velha da cidade, edifícios de tijolos e alvenaria, com menos resistência, e mais suscetíveis a desabar”, diz.
O Expresso ouviu estes dois especialistas e tenta esclarecer as dúvidas sobre uma operação de resgate nestas condições. E também refletir sobre se Portugal está preparado para um processo assim.
COMO SE RESGATAM PESSOAS NUM CENÁRIO DESTES?
São feitas ações de busca e salvamento. Os que são libertados e conseguem andar pelo seu pé, são os primeiros a socorrer; posteriormente, atendem-se as situações mais complicadas, como as vítimas debaixo dos escombros. Para isto, há cães e equipamento para localizar estas pessoas. Por outro lado, é urgente manter as estruturas de saúde com capacidade para agir.
QUAIS AS HORAS CRÍTICAS PARA ENCONTRAR PESSOAS COM VIDA?
As primeiras horas são as mais importantes, o passar do tempo traz sempre complicações e torna mais difícil encontrar pessoas com vida. Dito isto, não há um tempo definido, depende sempre de cada caso. Mas vão passar-se dias até que estas buscas terminem.
QUE EQUIPAMENTOS SÃO USADOS?
Material de estabilização e de escora, cães de busca, material de corte e ferramentas hidráulicas: isto apenas para o resgate. Para o socorro médico é usado equipamento de suporte avançado de vida.
A CONSTRUÇÃO MARROQUINA PODERÁ DIFICULTAR O RESGATE?
Sim, porque são construções frágeis, feitas com tijolo e alvenaria, sendo que, ainda por cima, o sismo atingiu os edifícios da parte velha e isso aumenta o risco de colapso de estruturas. É uma construção diferente da europeia e isso provoca mais danos, naturalmente.
Conselhos que se deve dar às pessoas? Manter a calma e serenidade essencial. As forças de socorro têm amigos entre as vítimas e é preciso organizar as operações. Decorridas 14 horas depois do abalo, o socorro está planeado e pronto a cumprir o resgate e salvamento. Naturalmente, os sobreviventes e equipas de socorro estão aflitos, nervosos, pelo que é fundamental seguir as indicações das autoridades e, para os operacionais do salvamento, muita frieza.
O NÚMERO DE MORTES SUBIRÁ MUITO NAS PRÓXIMAS HORAS?
É expectável que sim, a medida que o tempo corre, diminui a probabilidade de encontrar sobreviventes.
COMO SE LIDA COM POSSIBILIDADE DE NOVAS RÉPLICAS?
Não só réplicas, como também preocupações com novos terramotos, ou o colapso de estruturas onde estejam a decorrer manobras de resgate. É preciso estar atento, protegido com equipamento de segurança e monitorizar todos os movimentos.
PORTUGAL ESTÁ PREPARADO PARA UM SISMO?
Sim, tem havido treino, de forças de socorro e da população, temos equipamentos e equipas especializadas. Depende sempre da dimensão, mas numa resposta imediata estamos preparados.