Leonor Paiva Watson, in Jornal de Notícias
Sinalizar uma suspeita de abusos a crianças é obrigatório. É ainda imperativo um exame médico-legal e um diagnóstico rigoroso com uma detalhada descrição das lesões em todas as situações, para se dissiparem dúvidas.
Pelo caminho - explicou-se ontem, quinta-feira, em Gaia, num workshop dedicado aos abusos infantis, organizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e pelo Instituto Nacional de Medicina Legal (INML)- é essencial saber distinguir lesões que podem ser provocadas por um acidente e lesões provenientes de violência; e é imperativo que a criança não seja submetida a uma bateria de exames e inquirições, para não recriar e inventar factos.
"Quando há suspeitas é necessária a sinalização e um diagnóstico rápido", começou Teresa Magalhães, do INML . "Qualquer lesão pode não ser abusiva. Pode ser abusiva, mas também pode ser acidental ou até auto-inflingida. É preciso ser muito rigoroso", reiterou. O principal, defendeu, é que tudo seja rápido, em boa articulação com outras áreas de intervenção e com absoluto rigor.
"O primeiro sinal é quando alguma coisa não bate certo. Se a criança não quer contar a história da lesão, é porque estará a esconder qualquer coisa. Se os adultos dizem que fez a lesão ontem e a gente percebe que a lesão tem mais dias, é porque alguma coisa está mal. É possível uma criança queimar-se num cigarro por acidente, mas já não é acidente quando tem várias marcas de cigarro numa mesma área", explicou.
Pela parte dos técnicos tem de haver uma excelente articulação. "É deixar as perguntas para quem sabe. Porque se a criança é submetida a vários questionários, a dada altura está a recriar os factos e a dizer que foi como lhe estão a perguntar se foi. Isto não é para curiosos", avisa a médica.
O que pode alertar
Se um educador diz que a criança caiu e ela apresenta lesões nas partes internas do corpo, como, por exemplo, na parte interna dos braços, isso é suspeito. Se a lesão reproduz objectos é bastante suspeito. Ou, por exemplo, se há um grande atraso entre uma grande lesão e a procura de cuidados de saúde, é suspeito.
A "simples" bofetada
Uma simples bofetada que "não é dada com maldade, apenas para educar, porque assim nos ensinaram, pode causar sérios danos". "A criança pode cair, bater com a cabeça, ter um traumatismo craniano e morrer. O adulto nem sempre controla a força".