Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
Situação financeira das famílias melhorou face ao ano passado, mas a larga maioria continua com problemas.
Em cada dez portugueses, oito tiveram problemas financeiros com alguma frequência, no último ano, diz um estudo que põe Portugal em 4.º lugar dos países mais vulneráveis - uma melhoria face ao 1.º lugar de 2008.
O estudo feito pelo Centro de Investigação de Finanças Pessoais, da Universidade britânica de Bristol a pedido da seguradora Genworth, mostra que Portugal conquistou lugares no ranking, face ao ano passado. Nessa altura, tinha surgido como o país cujas famílias eram mais vulneráveis, do ponto de vista financeiro; este ano, três outros países estão em pior situação: Irlanda, Polónia e Grécia, por esta ordem.
A evolução de Portugal não ficou, contudo, a dever-se à real melhoria da situação financeira das famílias, mas sim ao facto de estas terem expectativas menos negras face ao futuro: se, no ano passado, a larga maioria imaginava que a vida seria pior dentro de um ano, agora já diz que ficará igual à que tem hoje, seja ela boa ou má. Aliás, a grande parte das pessoas (oito em cada dez) disse ter passado "sempre" ou "algumas vezes" por dificuldades financeiras, no último ano. Só a Polónia e a Grécia conseguem ter tanta gente com problemas frequentes.
Por outro lado, em Portugal, só 13% disseram ser raro ter problemas de dinheiro e apenas 6% reportaram não ter tido qualquer constrangimento, no último ano - percentagens comparativamente menores, mas, ainda assim, melhores das registadas em 2008.
Já quanto às expectativas, a situação deste ano é muito diferente da de 2008. Se, no ano passado, mais de metade das famílias admitia que a sua vida iria piorar, este ano só 18% o dizem.
A conjugação dos dois indicadores leva os autores do estudo a posicionar Portugal em quarto lugar, entre os 14 europeus analisados, quando, no ano passado, liderava o ranking. Esse facto foi realçado por Catarina Frade, do Observatório do Endividamento. "A economia vive muito de expectativas e é importante que as pessoas tenham a noção de que o sentimento global já não é tão negativo", afirmou.
A melhoria das expectativas poderá ajudar a revitalizar a economia, mas a investigadora lembra que só quando o desemprego começar a regredir é que se pode esperar um progresso efectivo na vida das famílias. Tanto que se, este ano, a descida a pique das taxas de juro ajudou a compor o orçamento familiar, nada garante que elas não voltem a subir, a partir do momento em que a economia volte a crescer, quer o desemprego já esteja a baixar, quer ainda continue alto.
Já Elaine Kempson, do Centro de Investigação de Finanças Pessoais da universidade inglesa responsável pelo estudo, reconheceu que os diversos níveis de vulnerabilidade em toda a Europa, sem dúvida, reflectem as diferentes experiências de recessão em diversos países e a extensão na qual alguns mercados estão a começar a mostrar sinais de recuperação económica, enquanto outros não".