Por Ricardo Garcia, in Jornal Público
Mais da metade das nações representadas em Copenhaga quer limite máximo de 1,5 graus na subida do termómetro global
Mais da metade dos países participantes na conferência climática de Copenhaga defende um limite mais ambicioso para o aumento da temperatura da Terra neste século: 1,5 graus Celsius, ao invés dos dois graus de que se tem falado mais.
Dos 192 países representados em Copenhaga, mais de 100 subscrevem o limite de 1,5 graus, disse ontem Dessima Williams, líder da Aliança dos Pequenos Estados Insulares. Este grupo, com 43 países, é um dos mais ameaçados pelas alterações climáticas. Dezenas de países africanos subscrevem igualmente aquela meta.
A posição não é, porém, consensual entre todos os países em desenvolvimento. As grandes potências emergentes - como a China, Índia e Brasil - têm adoptado os dois graus como baliza para as negociações em Copenhaga.
Ao final do terceiro dia da cimeira, que termina a 18 de Dezembro, as divisões entre as nações ricas e pobres tornaram-se mais evidentes. Os países em desenvolvimento reiteram que o Protocolo de Quioto deve ser mantido. Mais do que isso, apelaram ontem aos EUA para ratificarem o acordo, que Bush rejeitou em 2001. "Pedimos ao Presidente Obama e aos Estados Unidos que se juntem ao Protocolo de Quioto, para um acordo justo e equitativo", disse Lumuba Stanislas Dia-Ping, líder do grupo G77 mais a China, que representa as nações em desenvolvimento.
Críticas a metas de Obama
Os EUA foram novamente criticados pelos compromissos que Obama diz estar disposto a assumir em Copenhaga - na prática, três por cento de redução de emissões até 2020, em relação a 1990. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, alertou para o perigo de outros países desenvolvidos recuarem nas propostas mais ambiciosas que já apresentaram. "Apesar da boa vontade de Obama, os EUA querem ser tratados como um país em desenvolvimento", disse Amorim, numa entrevista radiofónica, citada pela Reuters.
A UE, para já, afasta a possibilidade de elevar o seu compromisso de redução de 20 para 30 por cento. O líder do Governo belga, Yves Leterme, por sua vez, criticou directamente Obama pelas suas metas. "É pouco para um Presidente dos Estados Unidos que quer assumir a liderança ecológica", afirmou, citado pela agência AFP.
Todd Stern, enviado de Obama a Copenhaga, rejeitou as acusações. "É uma oferta muito, muito importante a que fazemos. É um tremor de terra na política norte-americana", disse.
Stern reconheceu a responsabilidade histórica dos EUA nas emissões de carbono, mas negou a ideia de culpa, afastando a possibilidade de um regresso ao Protocolo de Quioto. "Não vamos tornar-nos parte de Quioto (...) nem de nada parecido", afirmou.
Copenhaga está a discutir um novo tratado climático, que deverá envolver compromissos também dos países em desenvolvimento para limitarem as suas emissões de CO2 - algo que Quioto não contempla.
Apesar das divisões, Yvo de Boer, secretário da ONU para as alterações climáticas, mostrou-se ontem confiante. "Sinto que agora há uma vontade sincera de negociar."