19.4.10

"Cortes reduzem capacidade de resposta do Estado"

por Helder Robalo, in Diário de Notícias

"Vamos ter de travar um duro combate durante as próximas décadas para que, em Portugal, não venha a assistir-se a um retrocesso nos direitos adquiridos pelos nossos trabalhadores".

Cerca de 360 mil desempregados portugueses ainda não receberam o subsídio de desemprego de Março. A situação, segundo o Ministério do Trabalho, deve-se a um problema informático. É aceitável uma situação destas?

A primeira questão a saber é se este é apenas um problema informático. Ou será que a coberto deste problema informático não há também aqui um problema humano? O que se está a verificar em vários serviços da função pública, e inclusive na Segurança Social, é que há uma redução dos quadros de pessoal e os que ficam não conseguem dar resposta a todas as situações a que têm de responder.

A CGTP-IN tem recebido muitos relatos de situações destas?

Temos. É claro que está a existir uma redução do quadro de pessoal da função pública e uma redução dos direitos dos trabalhadores. E, simultaneamente, está também a assistir-se a um aumento dos pedidos de aposentação.

O quadro de pessoal da função pública que actualmente existe não é suficiente para as necessidades dos serviços?

Um dos perigos que existem é o da desarticulação total dos serviços da função pública. Há serviços onde antes estavam sete ou oito funcionários e agora estão apenas dois, que não têm capacidade para dar resposta a todas as situações que lhes são solicitadas. Incluindo mesmo ao nível das áreas informáticas.

É admissível?

Isto é inadmissível, mas é para aqui que se está a caminhar, para esta lógica de que os pobres e os trabalhadores desempregados são uns malandros.

Se um contribuinte se atrasar no pagamento das suas prestações à Segurança Social ou às finanças é penalizado e tem de pagar juros de mora. Defende que o inverso também deveria suceder, isto é, que quando o Estado se atrasa nos seus pagamentos também deverá ser penalizado?

Como é lógico. É preciso repensar e recentrar toda a responsabilização do Estado. A verdade é que vamos ter de travar um duro combate nas próximas décadas, para que não haja um retrocesso nos direitos dos trabalhadores. Há políticas que são seguidas que estão a diminuir a capacidade dos serviços...

Este ataque aos direitos dos trabalhadores de que a CGTP tem vindo a falar é apenas um problema do actual Governo ou é algo que tem vindo a verificar-se nos últimos anos, com os últimos governos?

É uma situação que se tem verificado em geral, que não é apenas de agora. Mas eu diria que é vergonhoso que este Governo, um Governo socialista, tenha vindo a contribuir para agravar a situação que se vive.