Ana Paula Correia, in Jornal de Notícias
No discurso da sessão solene do Dia de Portugal, em Faro, o chefe de Estado, Cavaco Silva, lembrou que já tinha avisado anteriormente que o país vive uma "situação insustentável". Apelou, por isso, à coesão nacional e à repartição "equitativa e justa" dos sacrifícios.
Sócrates discordou de Cavaco quando Presidente disse que "situação é isustentável"
"Como avisei na altura devida, chegámos a uma situação insustentável. Pela frente, temos grandes trabalhos, enormes tarefas, inevitáveis sacrifícios".
Foi este o tom, de quem diz saber "a real dimensão do desafio que temos entre mãos", que o presidente da República utilizou para lançar os avisos ao Governo, no último discurso do Dia de Portugal, antes das próximas eleições presidenciais, previstas para Janeiro de 2011.
Depois de ter chamado a atenção para o desemprego, que disse ser "o flagelo maior da nossa economia", Cavaco alertou para a necessidade de os sacrifícios terem de ser "repartidos de forma equitativa e justa e, mais do que isso, têm de possuir um sentido claro e transparente, que todos compreendam".
"Não se podem pedir sacrifícios sem se explicar a sua razão de ser, que finalidades e objectivos se perseguem, que destino irá ser dado ao produto daquilo de que abrimos mão. Quanto mais se exigir do povo, mais o povo exigirá dos que o governam". Esta frase constitui um outro alerta para os decisores políticos, ao acentuar a necessidade de ter de ser dada uma explicação sobre a aplicação das receitas obtidas pelo Estado à custa da diminuição dos rendimentos dos portugueses. Só assim haverá a "coesão nacional" que considera necessária.
"A coesão nacional exige que a sociedade se reveja no rumo da acção política. A cidadania e o poder devem articular-se para conjugar esforços, pois este não é um momento que se compadeça com crispações inúteis".
Seguiu-se o recado para todas as forças políticas, como já sublinhara noutros discursos (ler caixa), de que é preciso "responsabilidade na procura de entendimentos que evitem rupturas no tecido social não compete apenas aos agentes políticos". E apelou a um "contrato social de unidade e de solidariedade entre empresários e trabalhadores".
O presidente insistiu em chamar a atenção dos eleitos ("governantes, deputados e autarcas") para as responsabilidades especiais que têm no sentido de estimular a força necessária para que os portugueses não baixem os braços.
"Este é o tempo de fazer um esforço suplementar para concertar posições e gerar consensos" e "não é o tempo para querelas partidárias ou quezílias ideológicas que nos possam distrair do essencial. O essencial são os problemas concretos dos portugueses".

