por Ilídia Pinto, in Diário de Notícias
Em dificuldades desde 2001, o sector da ourivesaria e joalharia está a sentir, "de forma particularmente intensa", a actual crise dos mercados financeiros internacionais e as suas consequências ao nível do comportamento dos consumidores.
A retracção no consumo teve consequências directas nas vendas das empresas e veio pôr a nu as fragilidades de um sector que, desde 2001, viu desaparecer cerca de 60% dos seus fabricantes, diz Jorge Sousa, da J Monteiro de Sousa & Filhos. A Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP) não tem números, mas a secretária geral admite que se assistiu, nos últimos dois anos, "ao encerramento de muitas empresas".
Fátima Santos não tem números para apresentar, diz apenas que foram sobretudo as empresa na área da produção de artefactos de ourivesaria as mais afectadas. Mas Jorge Sousa fala mesmo numa "sangria" que começou por volta do ano de 2001 e levou ao fecho "de cerca de 60% das oficinas na região de Gondomar", um dos maiores centros produtores de ourivesaria e joalharia em Portugal.
Para os que quiseram manter-se em actividade de forma rendível, houve que repensar o negócio, diz Fátima Santos. "Modernização e criatividade na gestão e nos produtos, redimensionamento e eficiência na organização das empresas foram conceitos que passaram e terão de continuar a estar na cabeça dos empresários", diz. Houve também que entender "a alteração drástica na vontade e nos gostos" dos consumidores, e apresentar artigos que vão ao encontro das novas realidades.
As recentes medidas de austeridade tomadas pelo Governo, designadamente o aumento do IVA, são uma preocupação acrescida num sector que está longe de ser um bem de primeira necessidade. Para a AORP, a solução está em passar ao consumidor a noção de que comprar uma jóia é, mais do que um objecto de arte, um investimento. "A subida do preço do ouro, atingindo valores recorde, poderá ser um aliciante interessante. É preciso voltar à ideia de ver a compra de peças de ouro como um aforro", diz Fátima Santos. Refira-se que o grama de ouro custava na quarta-feira 34,204 euros. Em Abril de 2001 custava 9,5 euros, em 2007 já ia nos 16 euros e em 2009 nos 22 euros. Já para Rui Ferreira Marques, da Topázio, o Governo deveria dar mais incentivos às exportações e tornar mais flexíveis os existentes no âmbito do QREN. "É a única forma de contrariar a quebra da procura interna", diz.
O sector perdeu em 2008 (últimos dados disponíveis no INE) cerca de um quarto das suas vendas face a 2007, fechando o ano com 94,6 milhões de euros. Destes, 17,3 são de artefactos de prata.

