14.12.10

Asma mal controlada é mais frequente nas classes mais baixas da população

Por Romana Borja-Santos, in Jornal Público

A proporção de asmáticos controlados é significativamente mais alta nas classes sociais da população com rendimentos mais elevados, o que demonstra que as características socio-económicas continuam a ser determinantes no tratamento da patologia. Este é uma das principais conclusões do I Inquérito Nacional sobre Asma, divulgado pela Direcção-Geral da Saúde, e que mostra que a prevalência da doença é também maior entre os mais desfavorecidos.

Dentro de uma amostra de 559 asmáticos, 47,4 por cento dos inquiridos pertenciam à classe média baixa e 16,5 à classe baixa. Na classe média estavam 15,8 por cento dos inquiridos e na classe média alta inseriam-se 12,6. Na classe alta estavam apenas 7,7 por cento. Se olharmos para o controlo da asma em função destas mesmas variáveis, vemos que é também na classe baixa que há mais problemas: 69,5 por cento das pessoas não têm a sua doença controlada, isto é, apresentam alguns sintomas como falta de ar, tosse ou pieira e mudanças na actividade rotineira. O segundo grupo com a doença mais mal controlada é a classe média baixa (46,3 por cento), seguindo-se a classe média (32,8), a classe média alta (28,6) e a alta (18,2).

Para o presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), estes dados detonam que “o acesso a consultas e a medicação não é igual” para toda a população e que é preciso trabalhar a questão da equidade. Ainda assim, Mário Morais de Almeida, em declarações ao PÚBLICO, salientou que a existência do estudo agora divulgado vai também permitir adaptar as políticas de saúde e orientar melhor o trabalho dos profissionais do sector. Por outro lado, recordou que recentemente os medicamentos para a asma passaram a ser todos comparticipados no escalão dos 69 por cento, o que vai melhorar o acesso aos mesmos e levar a melhores resultados em futuros inquérito.

Dependência de urgências hospitalares

Mário Morais de Almeida disse que um dos objectivos é, por exemplo, reduzir o recurso a urgências hospitalares (23 por cento foi pelo menos uma vez a uma urgência no último ano e três por cento foram internados) e aumentar o acesso a consultas (só 68 por cento teve pelo menos uma consulta por asma no último ano). “O recurso a urgências denota a gravidade do quadro mas também a falta de cuidados continuados e regulares. Podemos rentabilizar custos e tratar melhor as pessoas, o que não implica gastar mais”, explicitou.

Por outro lado, o especialista destacou que, ainda assim, a situação portuguesa em termos de controlo da doença evoluiu “de forma muito positiva nos últimos anos e está bastante bem consagrada dentro do panorama internacional”. Morais de Almeida recordou que em média quase 60 por cento dos doentes têm a doença controlada – uma percentagem que em 2006 não chegava aos 40 por cento.

De acordo com o inquérito agora divulgado, uma característica comum a toda a população está na percepção deficiente sobre o real estado do controlo da doença, já que 88 por cento dos inquiridos com sintomas de descontrolo acham que têm a doença controlada. Um dado que não surpreende Morais de Almeida, que explicou que é comum os asmáticos terem “uma baixa expectativa em relação à doença”, pelo que vão adaptando a vida às limitações, dando como exemplo passar a utilizar sempre elevadores em vez de escadas.

No que diz respeito distribuição por sexo, 60,1 por cento dos casos são em mulheres. Em termos de idade, a faixa etária entre os 18 e os 64 anos concentra 50,4 por cento dos casos, acima dos 65 anos estão 29,9 por cento e baixo dos 18 anos 19,7 por cento. Por região, o Algarve é onde a doença está melhor controlada (69,2 por cento) e o centro onde está pior (48,1).

Obesos têm mais problemas

O inquérito olha também para outras variáveis como o peso, sendo que 18,4 por cento dos asmáticos são obesos e 28,5 por cento têm excesso de peso. Há ainda 43,3 por cento com peso normal e 8,4 com défice de peso. Dados que permitem estabelecer uma relação entre um elevado índice de massa corporal e a dificuldade em controlar a patologia: quase metade dos obesos tem a doença descontrolada – uma percentagem que baixa para os 39,5 por cento em quem tem peso normal. A este propósito, o presidente da SPAIC sublinhou que os programas nacionais de combate à obesidade são muito importantes pelos seus “efeitos transversais”.