11.12.10

Jovens são "os mais vulneráveis" à pobreza

in Jornal Público


Em 2004, os portugueses consideravam os deficientes como o grupo mais vulnerável à pobreza

A percepção que os portugueses têm sobre os grupos mais vulneráveis à pobreza mudou em cinco anos: em vez dos doentes ou deficientes, hoje são as relações laborais que parecem definir as situações de risco. A mudança percebe-se através da comparação dos resultados de um estudo realizado há cinco anos e outro que foi divulgado ontem sobre a percepção da pobreza em Portugal.

Divulgado no Dia Internacional dos Direitos do Homem, o estudo foi efectuado pela Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP), Aministia Internacional -Portugal (AIP) e Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações, do Instituto Superior de Economia e Gestão - Universidade Técnica de Lisboa.

Em 2004, os portugueses consideravam que os grupos mais vulneráveis à pobreza eram as pessoas com deficiência, os doentes crónicos, as famílias numerosas e os grupos de risco, como toxicodependentes e alcoólicos. Hoje, os "mais vulneráveis" são os jovens à procura de primeiro emprego, os empregados com salários baixos e os trabalhadores precários, revelou Raquel Rego, investigadora.

A Amnistia Internacional (AI) lembra que este fenómeno de mudança de percepção torna a "velha pobreza" menos visível e, por isso, menos prioritária, tendo como possível consequência o agravamento da situação.

O estudo alerta que a percepção de que a pobreza afecta novos grupos pode deixar no esquecimento os pobres de ontem: "Esta crise veio em primeira instância piorar a situação de quem precisamente já vivia em situação de pobreza". Ana Monteiro, da AI, sublinhou ainda outro resultado do estudo: o pessimismo dos portugueses, já que 75 por cento dos inquiridos consideram que a situação de pobreza piorou nos últimos cinco anos e metade das pessoas acredita que vai continuar a agravar-se.

Quando questionados sobre se acreditavam que era possível aos pobres sair da situação de pobreza, nota-se um certo "fatalismo" nas respostas dos inquiridos, com 77 por cento a não crerem numa mudança e 61 por cento a acharem que os filhos de pessoas em situação de pobreza também não serão capazes de quebrar esse ciclo. Lusa