Por Pedro Matos Branco, in Jornal Público
As reuniões do Conselho Europeu, na quinta-feira e sexta-feira, e da Reserva Federal norte-americana (FOMC - Federal Open Market Committee), na quarta, constituem os acontecimentos mais relevantes da semana, para além da divulgação de um conjunto significativo de indicadores macroeconómicos.
A cimeira de chefes de Estado e primeiros-ministros dos 27 países da União Europeia ganha relevo no quadro de uma acentuada falta de entendimento para resolução dos problemas da dívida soberana dos países da periferia da Zona Euro. Após a solicitação formal do pedido de auxílio por parte da Irlanda, a instabilidade nos mercados de taxa fixa não se desvaneceu, tendo-se inclusive acentuado o stress relativamente à dívida portuguesa e espanhola, com emergência de riscos de contágio para o núcleo duro da Zona Euro, nomeadamente Itália e Bélgica. Em cima da mesa estará seguramente a aprovação, impasse ou rejeição de um reforço do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (com um montante actual de 440 mil milhões de euros), necessidade posta em evidência com o eventual pedido de auxílio ibérico, e o início da emissão de obrigações europeias comuns (euro obrigações), considerada um primeiro passo para uma maior (e indispensável) coordenação das políticas orçamentais da Zona Euro. A forte oposição alemã a estas duas ideias, entretanto já matizada no que respeita ao reforço do fundo, tem causado grande desagrado nalguns parceiros do euro, em particular nalguns considerados próximos da Alemanha, como é o caso do Luxemburgo. Não obstante o firme compromisso na defesa do euro e na estabilidade financeira da região, repetidos na sexta-feira pelo Presidente Sarkozy e pela chanceler Merkel, a falta de entendimento político visível deixa o BCE como única instituição em condições de promover alguma acalmia nos mercados, o que tem sido alcançado. Se o BCE tem conseguido resolver adequadamente os problemas de liquidez no sistema financeiro, não é, no entanto, sua matriz solucionar situações mais estruturais, como as de solvência, que requerem a actuação dos governos.
Nos EUA, não são de esperar alterações significativas na política monetária, devendo o FOMC manter a taxa fed funds no intervalo compreendido entre 0% e 0,25% e o programa de aquisição de títulos do Tesouro (quantitave easing) no montante de 600 mil milhões de dólares, até ao final do 1.º semestre de 2010, anunciado no início de Novembro. O interesse maior da reunião resulta da avaliação que a Fed possa vir a fazer de dois factos, um dos quais novo. Por um lado, o recente anúncio de um novo pacote fiscal acordado entre a Administração Obama e a maioria republicana, a merecer ainda aprovação no Congresso, com o objectivo de estimular o consumo e reduzir a taxa de desemprego. O pacote, que engloba uma redução de 2% nas contribuições para a segurança social, poderá vir a proporcionar um aumento de 0,3 pontos percentuais (p.p.) no PIB em 2011 e 0,2 p.p. em 2012, o que poderá retirar pressão sobre a Fed para a continuação da aquisição de Treasuries para além do primeiro semestre de 2011, ou mesmo para a sua total conclusão. Por outro lado, não obstante os dados decepcionantes para a criação de emprego de Novembro, os investidores percepcionam, com base na qualidade da generalidade de informação que vem sendo divulgada, que a recuperação ganha cada vez maior sustentação, o que não é opinião corroborada pela Fed. Uma manifestação deste sentimento é o maior envolvimento dos investidores nos mercados de maior risco em detrimento do mercado obrigacionista. ES Research/BES

