8.4.11

A crise não é para todos nas escolas e colégios

in Destak

Numa escola pública de Gaia, o diretor tira nove euros do bolso para dar a um aluno que, de outra forma, não poderia ir à visita de estudo. O pai e a mãe estão desempregados.

Em Oeiras, ainda há pais que pagam 1.700 euros por mês para os filhos frequentarem uma escola internacional. Para estas crianças saberem o privilégio que têm, cumprem voluntariado um dia por semana.

A crise, agudizada com novas medidas de austeridade nos últimos três meses, manifesta-se de várias formas nas escolas, mas o efeito mais visível é o aumento das refeições servidas nas cantinas, segundo o presidente da Associação Nacional de Agrupamentos e Escolas Públicas, Adalmiro Botelho da Fonseca.

Nos últimos anos, a escola pública tem absorvido muitos alunos do setor privado, devido às dificuldades das famílias, e não são raros os casos em que os professores acabam por contribuir com o seu dinheiro para ajudar os estudantes, seja para custear visitas de estudo, livros ou materiais.

As associações de pais têm louvado estes gestos, mas em tom de alerta.

“Sei que o aluno não ia à visita de estudo porque não tinha como pagar. Tem os dois pais desempregados”, contou à agência Lusa Adalmiro Fonseca, diretor da Escola Secundária de Oliveira do Douro.

Desde janeiro, quando os portugueses começaram a sofrer cortes salariais e nos abonos de família, já assistiu a transferências de colégios para a escola pública, mas o número “ainda não é significativo”.

Já o aumento do número a alunos a comer nas cantinas andará, pelo menos, nos 20% e com “muita gente da classe média”. O efeito “mais evidente” da crise, afirmou.

Os colégios que mais estão a sentir a crise – de acordo com a associação que representa o setor - são os que têm os chamados contratos simples: os pais pagam uma mensalidade em função do rendimento e o Estado comparticipa uma parcela.

A comparticipação anda na média dos 700 euros por aluno e por ano e abrange a classe média baixa, de acordo com o presidente da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), João Alvarenga.

À AEEP têm chegado pedidos de ajuda de diretores destes estabelecimentos, que temem ver este apoio desaparecer.

Já os colégios de topo parecem não enfrentar problemas, mesmo quando as expetativas ficam aquém do previsto.

A Oeiras International School abriu em setembro, com a intenção de conseguir 90 alunos. Ficou-se pelos 60, mas a procura para o próximo ano letivo está “muito boa”, garantiu a diretora.

A escola, a funcionar na Fundição de Oeiras, prepara-se para iniciar o novo ano numa quinta do século XVII, em Barcarena, que está a ser preparada para o efeito.

Apenas 20 alunos são portugueses e mesmo assim, alguns têm a mãe ou o pai de outra nacionalidade.

Aqui podem estudar do 5.º ao 12.º ano, pagando mensalidades entre os 1.000 e os 1.700 euros. Mas, para aprenderem que a vida não são só facilidades, têm no programa uma tarde de voluntariado por semana.

“Nestes programas os alunos têm de dar de volta à comunidade a sorte que têm por estar nestas escolas”, explicou Maria do Rosário Empis.

A localização da escola, perto do Oeiras Parque, é um ponto a favor em termos de clientela, mas faz também com que a diretora se aperceba, nos seus contactos, de menos empresas estrangeiras a instalarem-se no país: ”É como se os estrangeiros estivessem à espera de ver se vale a pena vir Portugal”.